As águas calmas da última temporada, deram lugar a um mar agitado no Real Madrid

Três derrotas nos últimos seis jogos, sendo duas seguidas atuando em seus domínios. Quando analisamos estes dados, é difícil acreditar que eles são referentes ao atual 18º colocado da Champions League, Real Madrid, que havia sofrido apenas dois reveses ao longo dos 68 jogos que antecederam essa fase pra lá de negativa que, obviamente, gerou uma grande crise pelos lados do Santiago Bernabéu.

Pois é, embora estejamos no início da temporada que sucede as recentes conquistas da LaLiga e da Champions League, os comandados de Carlo Ancelotti se vêem diante de uma inesperada crise tanto por conta de maus resultados, quanto em função do pífio futebol praticado em campo, afinal, com a tão aguardada chegada de Kylian Mbappé neste meio de ano, era esperado um Real Madrid, literalmente, avassalador.

No entanto, os seis de 12 possíveis pontos conquistados na fase de liga da Champions League, somados a vice-colocação da LaLiga com 9 pontos de distância em comparação ao líder Barcelona, ilustram a abrupta queda de rendimento por parte do Real Madrid, que sofreu o montante de sete gols e balançou as redes uma única vez nos últimos dois compromissos frente Barcelona e Milan em pleno Santiago Bernabéu.

Aliás, mesmo nas vitórias sobre Villarreal, Celta e Borussia Dortmund, o Real Madrid não convenceu. No último destes embates, por exemplo, ficou nítido que os Merengues venceram mais devido a incompetência dos alemães, que recuaram demais após abrirem uma vantagem de dois gols no primeiro tempo, do que por méritos próprios, apesar da goleada por 5 a 2 esconder esta realidade.

E como não poderia deixar de ser, o bode expiatório escolhido para levar as flechadas referentes a crise vivida pelo Real Madrid foi o treinador Carlo Ancelotti. Por essa razão, uma série de questionamentos passaram ser feitos em relação ao trabalho do técnico italiano, em especial no que diz respeito ao pouquíssimo aproveitamento dos jovens Arda Guler e Endrick, que juntos contabilizam míseros 398 minutos em ação até aqui na temporada.

Para se ter uma ideia, nessa última derrota para o Milan, Carlo Ancelotti chegou a promover as entradas de Fran García e Dani Ceballos com o Real Madrid precisando de gols para empatar com o Milan. Enquanto isso, Arda Guler e Endrick permaneceram os noventa minutos no banco de reservas. Logo, ainda que seja compreensível a intenção de não expor jovens promessas a fim de não queimá-las, é inexplicável o fato de não utilizá-las nem mesmo quando as circunstâncias do jogo as pedem.

Deste modo, a pressão sobre Carlo Ancelotti nunca foi tão grande desde o seu retorno ao Real Madrid em 2021, o que significa que a próxima partida contra o Osasuna se tornou crucial para clube e treinador no período de duas semanas de pausa da última Data Fifa do ano. É claro que uma troca no comando técnico madridista está fora de cogitação, mas caso a situação não melhore, pasmém, o técnico de 65 anos de idade ficará ameaçado no cargo.

Contudo, os problemas que assolam o Real Madrid não se resumem única e exclusivamente as decisões de Carlo Ancelotti, muito pelo contrário pois a maior responsabilidade deve ser atribuída a diretoria que contratou somente Kylian Mbappé e Endrick na última janela de transferências, isto é, dois atacantes para um elenco que além de perder Nacho Fernández e Toni Kroos, na temporada anterior sofreu com diversos casos de lesões, que inclusive obrigaram o ex-técnico do Milan a escalar jogadores improvisados em outras posições, como Eduardo Camavinga na lateral-esquerda, e Aurélien Tchouaméni na zaga.

Soma-se a isso, o fato de Dani Carvajal também ter sofrido uma grave lesão neste início de temporada, o que vem obrigando Carlo Ancelotti a utilizar o substituto imediato Lucas Vázquez, que por ser ponta de origem tem como ponto fraco a marcação. Não à toa, Rafael Leão praticamente passou por cima do camisa 17 do Real Madrid no lance do terceiro gol do Milan na vitória por 3 a 1. E tudo porque a diretoria madridista, liderada pelo presidente Florentino Pérez, não contratou um lateral-direito mesmo sabendo da escassez de opções no plantel, bem como dos 35 anos de idade nos ombros do seu titular e capitão.

Ademais, é importante salientar que qualquer inesperada ausência no Real Madrid o obriga a ir ao mercado, já que os Merengues não revelam novos jogadores, como tão bem faz o Barcelona que venceu o último El Clásico por 4 a 0 com sete atletas formados em LaMasia. Por sinal, geralmente quando um jovem se destaca nas categorias de base do clube madrilenho, este costuma ser emprestado para outro time e, se por um acaso apresentar um bom desempenho, consegue retornar, vide o atual exemplo de Nico Paz, que passará esta temporada defendendo as cores do Como.

Por fim, o mais relevante dos pontos que contribuíram para o declínio do Real Madrid é Kylian Mbappé. Certamente, o camisa 9 reviverá a melhor fase no futuro, dada a sua enorme qualidade técnica. Em contrapartida, isso não se equivale ao curto e médio prazos, onde a sua chegada causou um impacto negativo na equipe que perdeu somente duas partidas, e brilhou ao ser campeã espanhola e europeia na última temporada.

Assim, como já era de se esperar Kylian Mbappé ainda não está cem por cento adaptado ao sistema de jogo do Real Madrid, e por jogar posicionado onde Jude Bellingham, ou em outras situações Federico Valverde, ataca o espaço da faixa do campo ocupado por ele, o ex-jogador do PSG vem atrapalhando a movimentação dos meias, o que não ocorria com o antigo parceiro de Vinícius Júnior, Rodrygo, que em virtude do entrosamento fazia a toda engrenagem do quarteto ofensivo madridista funcionar.

Além do mais, as ações defensivas de Kylian Mbappé não ajudam a parte coletiva do time, pois ele e Vinícius Júnior até pressionam a primeira linha do adversário, mas depois não dão sequência na recomposição. Como resultado, o craque francês, autor de oito tentos e duas assistências em 15 jogos com a camisa do Real Madrid, também vem sendo alvo de duras críticas, sobretudo porque a expectativa da torcida é a de que ele entregue de 40 a 50 gols por temporada, assim como acontecia em Paris.

Sob todos estes aspectos, fica evidente que as cobranças em torno de Carlo Ancelotti são um tanto quanto exageradas, pois ao contornar os problemas do Real Madrid na temporada passada utilizando soluções caseiras dentro do próprio grupo, ele acabou maquiando tudo que estava errado e precisava ser corrigido no clube. Portanto, era inevitável que uma hora a conta das não contratações de laterais e zagueiros nas últimas equivocadas janelas de transferências iria chegar. E chegou!

2 Comentários

  1. Incrível como duas mudanças alteram e muito no entrosamento e ritmo do jogo. Kross e carvajal fazem toda diferença e o time já estava acostumado a jogar com eles. Mas agora não tem muito o que se fazer, é se adaptar com o novo formato do time e os novos jogadores, que por sinal são grandes craques. Se pegar o elenco completo do Real Madrid são jogadores de seleções em todas as posições. O time segue sendo o gigante da Europa, e certeza que em breve irá apresentar seu melhor futebol.

    • JoaoRicardo Responder

      Também acredito que o Real Madrid esteja vivendo apenas uma fase difícil por conta deste momento de transição, já que como você disse muito bem, Toni Kroos e Dani Carvajal eram dois pilares do time. Complicou ainda mais agora com a grave lesão do Éder Militão, então os Merengues precisarão se sustentar o máximo que der até janeiro, quando terão a obrigação de ir em busca de reforços. Obrigado pelo comentário!

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