Será? Essa era a única questão que ficava martelando no pensamento da torcida do Chelsea assim que Enzo Maresca, num ato de extrema coragem, desembarcou na capital inglesa para assumir o comando técnico do clube que se tornou uma verdadeira máquina de moer treinadores.
Por este motivo, essa dúvida passou a fazer parte do cotidiano no Stamford Bridge, a julgar pelas recentes demissões de Thomas Tuchel, Graham Potter, Frank Lampard e Mauricio Pochettino num curto espaço de dois anos. Logo, se nem treinadores renomados e tampouco promissores conseguiram recolocar o Chelsea no caminho das vitórias, o que dirá de um ex-auxiliar de Pep Guardiola, cujo único trabalho deu-se no título da Championship League (segunda divisão) à frente do Leicester na temporada anterior.
Contudo, passados quatro meses, ou quase 40% da temporada 2024-25, a velha pergunta do “será?” já não perturba mais a mente dos Blues, tendo em vista que o Chelsea adentrou o mês de dezembro ocupando a vice-colocação na tabela da Premier League, dando fortes indícios de que brigará diretamente pelo título inglês com Liverpool, Arsenal e Manchester City. Ou seja, algo absolutamente inimaginável até ao mais otimista dos torcedores.
Na realidade, antes do início da temporada o melhor dos cenários previa o Chelsea garantindo a classificação direta à Champions League através da Premier League, isto é, no máximo terminando no G-4 do campeonato, ainda que o clube do oeste de Londres tenha despejado mais de 230 milhões de euros em contratações na janela de meio de ano.
Todavia, contrariando totalmente as expectativas, os comandados de Enzo Maresca encerraram a 15ª rodada da Premier League na vice-colocação da tabela com 31 pontos, estando a apenas quatro do líder Liverpool, que soma um jogo a menos na competição. A propósito, uma segunda posição isolada conquistada neste último final de semana através de um grandioso triunfo por 4 a 3 sobre o Tottenham, em pleno Tottenham Stadium.
A vitória sobre o Tottenham foi a primeira do Chelsea sobre um adversário do bloco Big Six até aqui na Premier League.
Inclusive, o embate envolvendo os clubes londrinos está entre os melhores da atual temporada da Premier League, em especial por conta da virada do Chelsea que, praticamente, começou a partida perdendo por 2 a 0 devido aos escorregões do lateral-esquerdo Marc Cucurella. Ainda assim, os Blues provaram toda a sua força e mostraram enorme poder de reação ao virarem o placar para 4 a 2, com gols de Jadon Sancho, Enzo Fernández e Cole Palmer, duas vezes de pênalti.
Por sinal, os três autores dos gols do Chelsea no Tottenham Stadium podem ser considerados os símbolos do “renascimento” da equipe sob a liderança de Enzo Maresca, sobretudo porque o treinador italiano vem conseguindo potencializar o futebol de todos os jogadores, vide os exemplos dos próprios Jadon Sancho e Enzo Fernández, que finalizaram a última temporada em baixa.
Apesar de uma pequena reviravolta nas rodadas finais da temporada passada da Premier League, que acabou sendo crucial para confirmar uma vaga na Conference League, o Chelsea não convenceu em nenhum momento, tanto é, que Mauricio Pochettino foi demitido após um ano de um pobre trabalho em que somente Cole Palmer se destacou. Não à toa, o time ficou completamente refém da “Palmerdependência”.
Em 48 partidas pelo Chelsea na Premier League, Cole Palmer atingiu a incrível marca de 50 participações em gols, colecionando 33 gols e 17 assistências no período.
Em contrapartida, este último jogo frente o Tottenham prova que o Chelsea não é mais escravo de Cole Palmer, pois por mais que o camisa 20 tenha balançado as redes duas vezes, foi dos pés de Jadon Sancho que saiu o gol responsável pelo retorno dos Blues ao jogo. Ou seja, um jogador literalmente descartado pelo Manchester United que, em 12 partidas na temporada, já contabiliza cinco assistências e dois tentos.
E se os números de Jadon Sancho são significativos, os referentes a Enzo Fernández são ainda mais, haja vista os três gols e sete assistências assinalados por ele no decorrer 19 jogos realizados até o momento na temporada. Aliás, para se ter uma ideia essas dez participações em gols já igualam a marca da temporada 2023-24, quando o jogador argentino disputou o montante de 40 partidas pelo clube.
A explicação para a evolução de Enzo Fernández é, basicamente, a mudança no esquema tático do Chelsea que deixou de atuar no 4-3-3 para jogar no 4-2-3-1. À vista disso, com o meio-campo mais povoado e tendo Romeo Lavia ao lado para formar uma dupla de volantes, o ex-jogador do Benfica tem mais liberdade tanto para construir as jogadas quanto para apoiar o ataque, o que o faz pisar com maior frequência na área adversária.

Outra figura de destaque neste repaginado Chelsea, de Enzo Maresca, responde pelo nome de Nicolas Jackson. Alvo de inúmeros memes em virtude de algumas chances desperdiçadas em sua primeira temporada vestindo a camisa dos Blues, em que ele ainda fez 14 gols pela Premier League, nesta segunda temporada o atacante marfinense já marcou oito vezes em 14 aparições, quer dizer, mais da metade em 21 compromissos a menos na conta.
Ao mesmo tempo, Marc Cucurella, Pedro Neto e Moisés Caicedo são outras peças que encaixaram rápida e perfeitamente no sistema de jogo de Enzo Maresca, a ponto até do volante equatoriano render atuando deslocado na lateral-direita em meio as ausências do “eterno lesionado”, Reece James, além de Malo Gusto. E todos, é claro, regidos por Cole Palmer, que continua sendo o grande maestro da equipe em campo.
Sob todos estes aspectos, agora a pergunta pelos lados do Stamford Bridge, é: será que os Blues brigarão pelo título inglês? Para alguns, ainda é preciso aguardar porque a temporada exige consistência. Já para outros, a resposta é positiva depois da euforia gerada em torno das quatro vitórias consecutivas conquistadas desde a visita a Anfield em outubro.
Em todo o caso, seja campeão ou não após o desfecho da temporada, no final das contas o que mais importa é que o Chelsea voltou a ser Chelsea na Premier League!
2 Comentários
230 milhões de Euros não é pra qualquer time. O elenco do Chelsea merecia disputar até uma Champions League essa temporada, pois daria trabalho. Na Premier League se continuar com esse bom rendimento e não perder o ritmo até o fim, tem grande chance de ser campeão contando com alguns tropeços do Liverpool, e dos adversários que vem logo atrás.
Exato, e quem seria capaz de imaginar que Enzo Maresca colocaria o Chelsea na briga pelo título inglês tão rapidamente. É incrível o início de trabalho do italiano.
Obrigado pelo comentário!