Dois jogos, duas vitórias de virada no segundo tempo, e a conquista da Supercoppa Italia. Diante deste cenário, fica evidente que a trajetória de Sérgio Conceição não poderia ter começado melhor à frente do Milan, que em 180 minutos já sentiu o impacto da chegada do técnico de 50 anos de idade.
Logo, o antigo dilema de “ano novo, vida nova” nunca fez tanto sentido aos torcedores milanistas que atravessaram um verdadeiro calvário no primeiro semestre da temporada 2024-25, em que o Milan se despediu de 2024 ocupando a oitava colocação na tabela da Serie A somando 27 pontos em 17 jogos disputados. São 7 vitórias, 6 empates, 4 derrotas, 26 gols marcados e 17 sofridos ao longo desta razoável campanha de 52% de aproveitamento.
Não por um acaso, os Rossoneri se vêem separados a 17 pontos do líder da Serie A, Napoli, o que significa que eles estão fora da corrida pelo scudetto, ainda que estejamos na metade da temporada. Consequentemente, cabe ao Milan brigar por uma vaga no G-4, já que a distância em relação a quarta colocada Lazio — que segue numa espiral negativa — é de oito pontos no momento, porém com dois jogos a menos na competição.
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— Lega Serie A (@SerieA) January 5, 2025
No entanto, a realidade é que este é apenas o reflexo do grave equívoco cometido pelo Milan ao escolher Paulo Fonseca para suceder Stefano Pioli, que inclusive forçou a diretoria liderada pelo diretor-executivo Giorgio Furlani e pelo ex-jogador Zlatan Ibrahimovic, a promover uma troca no comando técnico da equipe depois da trágica comemoração de 125 anos do clube.
E embora com seis meses de atraso, essa mudança já rendeu os primeiros bons frutos ao Milan, que regressou da Arábia Saudita com o título da Supercoppa Italia na bagagem. Aliás, ainda que o torneio não tenha grande relevância no futebol italiano, conquistá-lo foi extremamente importante aos Rossoneri, sobretudo por ter renovado a confiança dos jogadores, pressionados e inseguros em meio a temporada abaixo das expectativas do time.
Soma-se a isso, o fato de que as circunstâncias que envolveram a conquista do 8º troféu da Supercoppa Italia por parte do Milan também deram um tom pra lá de significativo ao clube, tendo em vista que os comandados de Sérgio Conceição superaram Juventus e Inter de Milão através de grandes reviravoltas para dar a volta olímpica em Riade.
No embate da semifinal contra a Juventus, marcada pela estreia de Sérgio Conceição, o Milan foi ao intervalo perdendo por 1 a 0, mas ainda assim virou o placar no segundo tempo, uma situação que se repetiu na final diante da Inter de Milão, na qual os Rossoneri estavam sendo derrotados por 2 a 0, porém com gols de Theo Hernández, Christian Pulisic e Tammy Abraham, aos 7, 35 e 48 minutos da etapa final, conquistaram a segunda vitória consecutiva no Derby della Madonnina, que lhes rendeu a taça da Supercoppa Itália.
Sérgio Conceição se tornou o técnico do Milan que conquistou um título no tempo mais curto, superando Vincenzo Montella em 2016, campeão da Supercoppa Italia após 18 jogos no cargo.
Obviamente, Sérgio Conceição não realizou nenhuma revolução tática no Milan para erguer o caneco da Supercoppa Italia, especialmente porque não houve nem tempo pra isso, uma vez que o ex-treinador do Porto não completou nem uma semana no clube italiano. A propósito, ele até manteve o mesmo esquema do antecessor Paulo Fonseca, no caso o 4-2-3-1, a fim de preservar o entrosamento e a adaptação dos atletas em campo.
Portanto, o principal trabalho desenvolvido por Sérgio Conceição foi no aspecto psicológico, em que ele priorizou o resgate de uma mentalidade vencedora ao incentivar os jogadores que integram o terceiro plantel mais valioso da Serie A na atualidade, apenas atrás de Inter de Milão e Juventus. Ou seja, as duas vítimas do Milan na Supercoppa Italia, o que comprova a força do qualificado plantel milanista.
Por sinal, a maior queixa da torcida do Milan era justamente em relação a falta de brio dos jogadores, algo que se acentuou depois que algumas lideranças do vestiário entraram em rota de colisão com o ex-treinador Paulo Fonseca, como são os casos de Davide Calabria, Theo Hernández e Rafael Leão. E curiosamente, na decisão da Supercoppa Italia, o lateral-esquerdo francês marcou um gol e concedeu a assistência para o gol de Christian Pulisic, enquanto o atacante português deu o passe que resultou no tento salvador de Tammy Abraham.
Christian Pulisic chegou aos 10 tentos na temporada, alcançando a marca de dois dígitos de gols pelo segundo ano seguido pela primeira vez na carreira.
Deste modo, as vitórias sobre Juventus e Inter de Milão já mostraram qual será a cara deste novo Milan, de Sérgio Conceição, que ao longo das sete temporadas em que dirigiu o Porto sempre teve em mãos uma equipe combativa, intensa, e que deixava tudo em campo. Por este motivo, a dúvida que fica é como será o futuro de Rafael Leão, um jogador que oscila bastante sendo capaz de brilhar em determinadas partidas, e ao mesmo tempo desaparecer em outras.
Sob todos estes aspectos, resta saber se teremos uma nova versão de Rafael Leão, ou se ele deixará o Milan pela porta dos fundos, afinal, com Sérgio Conceição não existe meio termo, e é claro que isso vale para qualquer jogador. Seja como for, ao menos inicialmente essa relação começou da melhor forma possível, vide a assistência, os dois passes decisivos, as duas grandes chances de gols criadas, além das 20 ações com a bola nos 40 minutos em que o camisa 10 esteve em campo sob a batuta do treinador português.
Contudo, sem tempo pra comemorar, o próximo compromisso do Milan será já neste sábado (11) ante o Cagliari, 17º colocado na Serie A, pela 20ª rodada do campeonato. Em outras palavras, um jogo favorável para Sérgio Conceição se apresentar aos torcedores no San Siro, e para os Rossoneri iniciarem a longa caminhada rumo do G-4.