Quando um clube decide demitir um treinador nos dias atuais, os dirigentes logo iniciam buscas por profissionais da nova geração, obviamente, com perfis inovadores. Inclusive, é interessante o fato de que na maioria das vezes os nomes encontrados costumam resultar em alemães ou espanhóis.
No entanto, contrariando totalmente essa tendência a Roma anunciou o experiente Claudio Ranieri, de 73 anos de idade, para assumir o comando técnico da equipe após a curtíssima passagem de 12 jogos de Ivan Juric pelo clube que já havia demitido Daniele De Rossi devido aos três empates e uma derrota dos Giallorossi nas quatro rodadas iniciais da Serie A.
Deste modo, no momento em que Claudio Ranieri curtia a aposentadoria junto dos netos depois de salvar o Cagliari do rebaixamento na desgastante temporada passada, o seu celular tocou ao receber uma ligação vinda de Londres, mais especificamente do dono da Roma, Dan Friedkin, oferecendo o único emprego capaz de mudar os planos do treinador declaradamente romanista, que já havia rejeitado outras propostas.
As lágrimas de Claudio Ranieri ao ser ovacionado pela torcida do Cagliari.
— Sala12 (@OficialSala12) May 27, 2024
Aos 72 anos, ele fez neste fim de semana o seu último jogo como treinador.
Lendário demais, aquele título com o Leicester é um dos maiores da história
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Logo, a paixão de Claudio Ranieri pela Roma o fez aceitar a oferta para comandá-la pela terceira vez na carreira mesmo com os Giallorossi atravessando um momento pra lá de turbulento ocupando a 13ª posição na tabela da Serie A somando 13 pontos em 12 jogos, o que já era de se esperar em decorrência das três trocas de treinadores em apenas três meses de temporada, além dos quatro técnicos no ano de 2024.
Além disso, fora das quatro linhas a insatisfação dos torcedores romanistas era enorme, especialmente em função das demissões de José Mourinho e Daniele De Rossi no ano passado, afinal, tratam-se de dois ídolos da torcida. Não à toa, tanto a pressão sobre a CEO, Lina Souloukou, quanto as cobranças em torno das principais lideranças do vestiário como Gianluca Mancini, Lorenzo Pellegrini e Bryan Cristante, deixavam um ambiente de extrema tensão no clube da capital italiana.
Diante deste cenário, somente uma figura bastante identificada com o clube poderia amenizar a crise que se instaurava na Roma. E pensando em um treinador mais jovem, Dan Friedkin sugeriu o nome de Vincenzo Montella, atualmente na seleção turca, porém o restante da diretoria rejeitou a ideia de imediato, ao contrário do que aconteceu assim que a opção por Claudio Ranieri veio à tona.
Apesar da pior campanha na Serie A desde 1979, Claudio Ranieri aceitou o desafio de dirigir a Roma pela terceira vez, retornando ao clube após 5 anos.
Contudo, assumir o comando da Roma em condições adversas não é novidade ao técnico Claudio Ranieri, tendo em vista que em 2019 ele também atendeu ao chamado do clube que na época ocupava a sexta posição na Serie A, e corria o risco de não garantir uma vaga para disputar a Champions League pela primeira vez em seis anos. Pois é, e embora aquela situação não fosse tão complexa em comparação a atual, é necessário recordar que o contexto era o mesmo com a torcida protestando a cada partida, e em total rota de colisão com a diretoria.
Seja como for, a relevante diferença desta vez é que Claudio Ranieri seguirá trabalhando no clube do coração após o término da temporada 2024-25, mas como diretor-executivo, algo que anima, tranquiliza, e dá segurança aos romanistas. E com o ex-treinador do Cagliari à beira do campo, a Roma superou o difícil início sem vencer Napoli, Tottenham e Atalanta, ao embalar uma série de 6 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota nos 9 compromissos seguintes.
Todavia, foi o triunfo por 2 a 0 sobre a rival Lazio — cujo treinador é o ex-jogador de Claudio Ranieri no Napoli em 1991, Marco Baroni — que ganhou maior destaque nesta sequência positiva da Roma. Ainda que em pior fase, a Roma estreou no ano vencendo o Derby della Capitale com a assinatura de Claudio Ranieri, que ao contrário do antecessor Ivan Juric, escalou a equipe com os experientes Mats Hummels e Leandro Paredes entre os titulares, e isentou o meia Paulo Dybala de obrigações defensivas, deixando-o livre para jogar.
Com isso, a vitória no Derby della Capitale renovou as expectativas da Roma que encerrou a 21ª rodada da Serie A na 9ª colocação com 27 pontos, dos quais 14 foram conquistados após a chegada de Claudio Ranieri, o que corresponde a metade da pontuação. Ademais, a goleada por 4 a 1 sobre a Sampdoria, rendeu a classificação dos Giallorossi às quartas-de-final da Coppa Italia, ao passo que o empate diante do Tottenham (2×2) e a vitória sobre o Braga (3×0), os colocaram novamente na zona de qualificação aos playoffs da Europa League (14º lugar).
???? Finisce così! La @OfficialASRoma vince il Derby della Capitale grazie ai gol di Pellegrini e Saelemaekers!????❤️#RomaLazio pic.twitter.com/g6ekFAsuC8
— Lega Serie A (@SerieA) January 5, 2025
Em contrapartida, nem a melhora sob a batuta de Claudio Ranieri será suficiente para superar o estrago causado pelas mudanças de treinadores, somadas a sucessão de maus resultados no primeiro semestre da temporada, tanto é, que a realidade da Roma passou a ser a briga por uma vaga na Conference League, isto é, muito pouco para o clube que investiu o montante de 92,6 milhões de euros em reforços, sendo o quarto clube que mais gastou na Serie A.
E para evitar que os erros dessa temporada se repitam na próxima, a Roma já trabalha na contratação do futuro treinador. E em meio aos rumores que envolvem a vinda de Massimiliano Allegri, o jornal ‘Gazzeta dello Sport’ aponta que Francesco Farioli é uma alternativa unânime entre o diretor-esportivo Florent Ghisolfi e o próprio Claudio Ranieri. Aliás, desde o Natal ambos estão mantendo contato com o técnico do Ajax, que realiza um verdadeiro milagre no clube de Amsterdam, hoje a um ponto do líder da Eredivisie, PSV, lembrando que neste mesmo estágio da edição anterior do campeonato essa distância era de 21 pontos.
O estilo de jogo ofensivo, intenso, e de alta pressão de Francesco Farioli agrada a cúpula diretiva romanista, sobretudo porque na Roma ele teria qualificadas peças à disposição para utilizar a sua formação predileta, o 4-3-3, a julgar pelos bons laterais Devyne Rensch e Angeliño, o sólido zagueiro Gianluca Mancini ao lado do técnico Mats Hummels, com o consistente meio-campo formado por Leandro Paredes, Lorenzo Pellegrini e Bryan Cristante, além dos rápidos e habilidosos Alexis Saelemarkers e Nicola Zalewski abertos pelas pontas, e Artem Dovbryk centralizado no ataque.
Em todo o caso, resta saber em qual posição Francesco Farioli encaixaria Paulo Dybala. Por outro lado, este é um problema que não pertence a Roma nesta temporada em que Claudio Ranieri segue apagando o incêndio que se alastrava em Trigoria.