Alisson evita goleada do PSG na melhor partida da carreira no Parque dos Príncipes

Inacreditável: algo que ultrapassa os limites da credibilidade; incrível; espantoso; inconcebível; fora do comum. Na teoria, essa é a definição do dicionário Michaelis, mas na prática podemos usar como exemplo a magistral atuação de Alisson no Parque dos Príncipes para elucidar aquilo que não é acreditável.

Não à toa, o goleiro brasileiro, de acordo com ele próprio, realizou contra o Paris Saint-Germain sua melhor atuação ao longo da carreira. Todavia, antes de exaltar — merecidamente — a partida de Alisson, é importante entender tudo o que ocorreu no confronto que reuniu os atuais líderes da Premier League e da Ligue 1 pelas oitavas-de-final da Champions League.

A começar porque a crônica do jogo pode ser resumida como: “a noite de um atropelamento em que o atropelado saiu de campo com a vitória”. Pois é, a soberania do PSG foi tamanha frente o Liverpool que a impressão era a de que os parisienses estavam enfrentando somente mais um rival da Ligue 1 no Parque dos Príncipes, a julgar pelas estatísticas da partida, conforme destacado abaixo:

Sim, o futebol é o único esporte capaz de nos proporcionar uma condição em que a equipe que sofreu o montante de 28 arremates e finalizou apenas duas vezes na meta adversária conquiste a vitória ao término da partida. Fazendo uma alusão ao boxe, é como se um pugilista entrasse no ringue apanhando do início ao fim da luta, porém no último round acerta um soco no oponente e o nocauteia. Quer dizer, um típico script de filmes de Hollywood — Rocky Balboa que o diga!

Inclusive, o Liverpool foi tão envolvido na capital francesa que mal conseguia trocar cinco passes seguidos, sendo forçado a abusar das bolas longas no decorrer da partida. E foi exatamente num destes lançamentos, dado pelo goleiro Alisson, que Darwín Núñez ganhou a disputa ante o zagueiro Marquinhos e tocou para Harvey Elliott balançar as redes de Gianluigi Donnarumma através da única finalização certa no gol por parte dos Reds.

De resto, o Liverpool passou o jogo inteiro situado em seu próprio campo se defendendo. Não à toa, ao analisarmos o mapa de posicionamento dos atletas notamos que Diogo Jota atuou praticamente como um volante, enquanto Luis Díaz jogou no meio-campo por ter que marcar as constantes subidas do lateral-direito Achraf Hakimi por dentro. Soma-se a isso, o fato de que o PSG trocou 43% dos passes da partida no ataque, mediante 17% do Liverpool — contra outros 40% na região central.

Mapa de posicionamento do Liverpool: somente Salah (11) no campo de ataque.

Considerando o estilo de jogo do Paris Saint-Germain a tendência era a de que realmente o Liverpool jogasse sem a bola, a fim de apostar nas rápidas transições com Mohamed Salah, Diogo Jota e Luis Díaz, repetindo assim a mesma estratégia usada na recente vitória sobre o Manchester City por 2 a 0 no Etihad Stadium, até porque os Citizens também praticam um futebol baseado no controle através da posse. Contudo, o que se viu no Parque dos Príncipes foi uma partida unilateral onde apenas os parisienses atacaram.

Mas no final das contas, Harvey Elliott precisou de 47 segundos em campo para marcar o gol da inusitada vitória do Liverpool, quando restavam míseros três minutos para o término da partida, lembrando que a eterna promessa de 21 anos de idade havia entrado no lugar de Mohamed Salah, que fez um jogo irreconhecível em Paris. Por sinal, a insatisfação do atacante egípcio no momento da substituição deve ter sido devido a sua má atuação, pois se irritar com Arne Slot por sacá-lo seria uma tremenda falta de bom senso.

Diante deste cenário, fica evidente que Harvey Elliott poderia tranquilamente ter retornado à Merseyside como o grande herói do jogo no Parque dos Príncipes, o que não aconteceu por conta de Alisson Becker, autor de nada menos do que NOVE defesas na partida. A propósito, em cada uma delas o goleiro do Liverpool ia reduzindo a confiança do Paris Saint-Germain e, por outro lado, aumentando a sua própria auto-estima, da mesma forma que um atacante em boa fase.

Dentre os brasileiros, é inegável que foi a mais brilhante atuação de um goleiro em um jogo de Champions League, cujo próprio Alisson já havia protagonizado apresentações de destaques como na final do torneio continental contra o Tottenham, em 2019. Entretanto, no âmbito geral a partida em Paris entrou ao seleto hall das melhores, senão a melhor em todos os tempos, tanto é, que se não fosse o camisa 1 o PSG teria goleado o Liverpool.

Ademais, outro detalhe não menos relevante é que Gianluigi Donnarumma não defendeu a única finalização do Liverpool a gol durante os noventa minutos de jogo, aliás, um chute totalmente defensável, sobretudo se o compararmos as intervenções de Alisson na meta adversária. Ou seja, mais um fato para os torcedores franceses lamentarem e os ingleses festejarem.

Já vivi momentos históricos em todos esses anos aqui no Liverpool. Mas hoje, sem dúvida, foi a atuação com mais defesas complicadas. Acredito que essa tenha sido a melhor atuação da minha carreira até aqui.

Alisson Becker, goleiro do Liverpool

Isto posto, a realidade é que Anfield ganhou um novo santo, já que o nome de Alisson deve ser canonizado após os verdadeiros milagres feitos diante do PSG. Ao mesmo tempo, é importante destacar que o jogo ainda não acabou e, apesar da vantagem mínima, o Liverpool precisará melhorar demasiadamente para garantir a vaga nas quartas-de-final da Champions League, em especial porque um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, isto é, não dá pra depender de outra atuação sobrenatural do seu goleiro.

Logo, é fundamental que os comandados de Arne Slot consigam encontrar um encaixe junto ao jogo dos parisienses na próxima terça-feira (11), por mais que aspectos como Alisson, a sina do Paris Saint-Germain na Champions League, além da hostil atmosfera de Anfield conspirem a seu favor, tendo em vista que o Liverpool perdeu apenas um dos 20 jogos realizados em seus domínios até aqui na temporada — do Nottingham Forest, por 1 a 0.

Portanto, ingredientes não faltam para termos outro grande jogo no decisivo duelo entre Liverpool x PSG, dentre os principais, mais uma aparição de “São Alisson”, desta vez em Anfield.

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