Mais um inverno se aproxima do fim na Alemanha dando lugar a chegada da primavera que, este ano, traz junto das tradicionais flores e do sol que emerge na estação, a enorme perspectiva do retorno do Hamburgo à Bundesliga.
Entretanto, nem o mais fanático dos torcedores do Hamburgo quer ouvir a palavra promoção nessa primavera, a julgar que o centenário clube do norte da Alemanha vive um verdadeiro calvário desde a queda à segunda divisão há quase sete anos, aliás, a primeira daquele se vangloriava por ser o único representante presente na edição inaugural da Bundesliga em 1963 que nunca havia sido rebaixado até então.
Inclusive, a ostentação dos hamburgueses era tamanha por jamais ter disputado a segunda divisão que um relógio foi instalado no Volksparkstadion para exibir aos adversários quantos minutos, horas, dias, meses e anos eles estavam situados no primeiro escalão do futebol alemão. Não à toa, apesar da enorme tradição do Hamburgo, detentor de seis títulos nacionais e um da Champions League — em 1983 —, o lema do clube passou a ser “ewig erste Liga” (eternamente na 1ª Liga), enquanto campanhas cada vez piores eram realizadas.
O aposentado relógio do Volksparkstadion marcava quanto tempo o Hamburgo estava na primeira divisão. Por isso, o clube ganhou o apelido de ‘Der Dino’ (O Dinossauro) na Alemanha.
Logo, diante de tanta “soberba” o rebaixamento do Hamburgo em 2018 foi extremamente comemorado pelos oponentes, em especial pelo maior rival St. Pauli, que se diverte com o fato de que todo o tempo que o vizinho demorou para sofrer o inédito descenso agora se reverteu ao longo período que ele não consegue o acesso, haja vista as sete temporadas do Die Rothosen na 2.Bundesliga.
Em contrapartida, pior do que não regressar à Bundesliga é fracassar a um passo do tão aguardado retorno, uma sensação que o Hamburgo experimentou em 2022, quando caiu diante do Hertha Berlin nos playoffs depois de vencê-lo por 1 a 0 na capital alemã e perder por 2 a 0 em pleno Volksparkstadion, e no ano seguinte ao ver o Heidenhem marcar dois gols nos acréscimos que acabaram com as chances da quase promoção.
Portanto, a realidade é que o Hamburgo coleciona quatro quartas colocações e dois terceiros lugares ao longo deste martírio na 2.Bundesliga, o que significa que a equipe acumula dois reveses nos playoffs. Pois é, e para aumentar ainda mais o sentimento de frustração, mesmo com um orçamento inferior o St. Pauli sagrou-se campeão na temporada passada e voltou à Bundesliga após 13 anos.
O treinador do Hertha Berlin na vitória sobre o Hamburgo nos playoffs de acesso da Bundesliga em 2022 era o ídolo Felix Magath, autor do gol do título europeu de 1983.
Vale ressaltar que entre estes anos de 2018 e 2024, o Hamburgo já teve oito treinadores diferentes no cargo, indo desde os mais pragmáticos aos mais inovadores. Todavia, o único atributo em comum envolvendo todos eles era a forte personalidade para liderar um time pra lá de pressionado, característica esta considerada fundamental pelo clube alemão.
No entanto, o caminho inverso percorrido pelo Hamburgo em relação as temporadas anteriores em que a equipe iniciava bem a campanha na 2.Bundesliga, mas caía de rendimento na parte final, obrigou a diretoria a demitir Steffen Baumgart ainda na 13ª rodada quando o Dinossauro ocupava a sétima posição na tabela somando 20 pontos, e ao mesmo tempo apostar na promoção do interino Merlin Polzin, que já havia exercido a mesma função em uma única partida há um ano, depois da saída de Tim Walter.
Obviamente, a intenção do Hamburgo era manter Merlin Polzin à frente da equipe de maneira provisória até que um novo treinador fosse contratado, porém a sucessão de bons resultados, aliado a ascensão coletiva e individual em campo, determinaram a efetivação do jovem treinador de 34 anos de idade, que perdeu somente um dos dez jogos disputados até aqui, contabilizando 5 vitórias e quatro empates nas demais partidas. À vista disso, os Die Rothosen encerraram a 25ª rodada da 2.Bundesliga no topo da tabela.
Contudo, além de Merlin Polzin outro herói improvável dos hamburgueses responde pelo nome de Davie Selke, autor de 18 gols em 26 partidas na temporada. Com decepcionantes passagens por Werder Bremen, RB Leipzig, Hertha Berlin e Colônia, o camisa 27, considerado uma eterna promessa em razão da boa trajetória nas categorias de base da seleção alemã, teve em Hamburgo a última oportunidade para, enfim, se firmar na carreira.
Ainda assim, Davie Selke desembarcou em Hamburgo como um mero suplente do titular Robert Glatzel, que ao lesionar o quadril no início de outubro acabou dando a oportunidade que o reserva com mais de 200 aparições na Bundesliga tanto precisava. Apenas considerando o ano de 2025, foram sete tentos assinalados em sete partidas, um desempenho que sustenta a média de um gol por jogo levando em conta os últimos onze compromissos.
Deste modo, sob o comando de Merlin Polzin e os gols de Davie Selke, o Hamburgo não apenas lidera a 2.Bundesliga como está a míseros nove jogos de deixá-la depois de oito primaveras, mas apesar do favorável cenário o fantasma dos recentes insucessos ainda assombra os hamburgueses que seguem cautelosos acerca do acesso, sobretudo porque a diferença em comparação ao quarto colocado, Magdeburg, é de apenas três pontos.
Por este motivo, a antiga presunção do Hamburgo, representada na figura do obsoleto relógio do Volksparkstadion, deu lugar a uma tremenda precaução que se sustenta no nascer de mais uma primavera, ainda que a espiral seja totalmente positiva aos pupilos de Merlin Polzin.