Antes dos decisivos jogos das oitavas-de-final da Champions League postei um artigo intitulado “Quem pode parar o PSG”, expondo exatamente a força da equipe completamente reformulada por Luis Enrique. Por sinal, caso não tenha lido, segue o link: https://www.soccerblog.com.br/2025/02/25/quem-pode-parar-o-psg/
Como não poderia deixar de ser, uma análise baseada, em especial, no futebol praticado pelo Paris Saint-Germain que evoluiu acentuadamente na primeira temporada pós-saída de Kylian Mbappé, sendo a segunda sob o comando do subestimado Luis Enrique, o principal responsável pela nova face dos atuais tricampeões franceses, a ponto de torná-la a melhor versão do time ao longo da era QSI (Qatar Sports Investments).
Ademais, a mudança de cultura estabelecida ao deixar de ser um clube midiático e repleto de grandes estrelas do mundo da bola a outro composto por diversos jovens apetitosos e sedentos por títulos, representada de forma simbólica pelo adeus do último dos remanescentes, Kylian Mbappé também foi crucial para que o PSG alcançasse esse estágio de excelência da atualidade, ainda que o impacto inicial desta nova filosofia tenha preocupado até mesmo o mais otimista dos torcedores parisienses.
De qualquer maneira, quem acompanha o futebol sabe perfeitamente que nos dias de hoje é impossível um time se defender com apenas sete homens, algo que Mauricio Pochettino já havia identificado como problema no Paris Saint-Germain com Lionel Messi, Neymar e Kylian Mbappé em campo. Como consequência, os parisienses venceram “somente” a Ligue 1 na temporada da despedida do técnico argentino e dos craques de Inter Miami e Santos no Parque dos Príncipes.
As quatro únicas derrotas sofridas pelo PSG dentre as 42 aparições na temporada 2024-25 ocorreram justamente na Champions League (Arsenal, Atlético de Madrid, Bayern de Munique e Liverpool).
Na temporada seguinte, Luis Enrique assumiu o posto de Mauricio Pochettino tendo de lidar com o imbróglio que envolvia a ida de Kylian Mbappé ao Real Madrid, mas que no final das contas acabou sendo muito bem conduzido pelo ex-treinador da seleção espanhola que, paralelamente, já preparava o Paris Saint-Germain para jogar sem o seu principal astro, inclusive o deixando de fora em diversos jogos naquela oportunidade.
Deste modo, com Ousmane Dembélé marcando 21 gols apenas no ano de 2025, João Neves e Vitinha atingindo o auge em termos físico e técnico, Fabián Ruiz voltando a ser aquele meio-campista de destaque da Eurocopa 2024, Marquinhos liderando a equipe sob a companhia do excelente Willian Pacho, Achraf Hakimi e Nuno Mendes defendendo e atacando com a mesma eficácia, Bradley Barcola e Désiré Doué provando que a França é um celeiro de craques, além de Khvicha Kvaratskhelia que revive os melhores momentos dos tempos de Napoli, o PSG se transformou numa verdadeira potência.
Em resumo, ao montar um elenco talentoso e com atletas mais operários que acreditam em suas ideias, Luis Enrique foi capaz de potencializar o futebol de cada uma de suas peças e, assim, fazê-las apresentar um deslumbrante futebol, haja vista a histórica campanha até aqui na Ligue 1, em que o PSG não apenas se mantém isolado na liderança com 16 pontos de vantagem sobre o vice-colocado Olympique de Marselha, como também continua invicto somando 20 vitórias e cinco empates em 25 jogos disputados.
Em contrapartida, o fato da Ligue 1 ser uma liga de menor nível técnico na qual os parisienses realmente se distinguem em relação aos demais oponentes, ainda faz com que muitos “entendidos” não valorizem o futebol do Paris Saint-Germain, por mais que Lille e Brest tenham superado a fase de liga da Champions League, por exemplo, com os Les Dogues conquistando vitórias sobre Real Madrid e Atlético de Madrid.
Décimo quinto colocado na fase de liga da Champions League, o PSG superou o Brest nos playoffs de repescagem do torneio através de uma vitória por 10 a 0 no placar agregado (3 a 0, e 7 a 0).
Diante deste cenário, a épica classificação do PSG sobre o Liverpool nas oitavas-de-final da Champions League ao menos servirá para que alguns céticos abram os olhos para enxergar essa nova realidade, a julgar pelas gigantescas atuações dos franceses frente os donos da melhor campanha da fase de liga do torneio tanto no Parque dos Príncipes quanto em Anfield, conforme as palavras do próprio zagueiro e capitão adversário Virgil van Dijk:
Parabéns ao Paris Saint-Germain, eles foram o melhor time que enfrentamos até agora na temporada. Crédito para Luis Enrique, ele construiu uma equipe muito boa.
Virgil van Dijk, capitão do Liverpool
Após um verdadeiro “monólogo” no jogo de ida na capital francesa, onde somente o Paris Saint-Germain finalizou o montante de 28 vezes e mesmo assim saiu de campo derrotado graças a melhor atuação da carreira de Alisson, além do gol do novato Harvey Elliott 47 segundos depois de entrar no lugar de Mohamed Salah, o jogo de volta em Merseyside teve uma “conversa”, visto que franceses e ingleses tomaram a iniciativa de um tentar matar o outro ao longo dos noventa minutos.
A propósito, a injusta vantagem mínima contruída pelo Liverpool no Parque dos Príncipes foi diluída por Ousmane Dembélé, aos 12 minutos da etapa inicial. De resto, o que vimos foi uma partida do mais alto nível em que qualquer equipe poderia saído de Anfield classificada, porém as ótimas defesas de Alisson e Gianluigi Donnarumma foram fundamentais para que o triunfo por 1 a 0 dos parisienses prevalecesse.
O PSG se juntou ao Nottingham Forest como os únicos que venceram o Liverpool em Anfield na temporada. Pela Champions League, um tabu que durava desde o 5 a 2 do Real Madrid há dois anos.
Já na prorrogação, o domínio foi do Paris Saint-Germain, menos desgastado pelo fato de Luis Enrique ter poupado o time na rodada passada da Ligue 1, ao passo que o Liverpool encarou o Southampton com força máxima na Premier League. De qualquer maneira, Alisson novamente brilhou com pelo menos duas dificílimas intervenções, e a decisão foi para os pênaltis. Ali, seja na sorte, seja na competência, Gianluigi Donnarumma se sobressaiu ao defender as cobranças de Darwin Núñez e Curtis Jones, determinando a ida dos pupilos de Luis Enrique às quartas-de-final da Champions League.
Além de Gianluigi Donnaruma, outro jogador que merece ser destacado na qualificação dos parisienses é Nuno Mendes, que colocou Mohamed Salah literalmente no bolso nas duas partidas. Em Anfield, foram 103 ações com a bola, 7 cortes, 2 chutes bloqueados, 4 interceptações, 84% de acerto de passes, 5 desarmes, e doze de 17 duelos vencidos pelo lateral-esquerdo do PSG.
Na próxima fase da Champions League, o Paris Saint-Germain regressará à Terra da Rainha para encarar o Aston Villa, podendo ainda ter o Arsenal como adversário nas semifinais. Em outras palavras, uma mini Premier League para os parisienses provarem aos heréticos o porquê eles estão entre os principais postulantes à conquista do título europeu.