Sem evoluir, Portugal se vê numa encruzilhada sob o comando de Roberto Martínez

Quem vê a goleada de Portugal sobre a Dinamarca por 5 a 2 pelas quartas-de-final da Liga das Nações imagina que os portugueses atropelaram os dinamarqueses no estádio José Alvalade.

No entanto, este é apenas mais um resultado que não traduz em nada o que aconteceu em campo, tendo em vista que a seleção de Portugal foi absolutamente nula em 60 dos noventa minutos da partida, e acabou se sobressaindo na prorrogação por estar mais inteira na parte física, a julgar pelos dois gols marcados no tempo extra.

Mas antes de me debruçar no jogo de Lisboa, é importante salientar que no compromisso anterior, em Copenhagen, os portugueses realizaram a sua pior apresentação sob a batuta de Roberto Martínez, e só perderam pelo placar mínimo devido a brilhante atuação do goleiro Diogo Costa, autor de sete defesas, incluindo um pênalti, dentre as 23 finalizações da Dinamarca ao longo da partida. Ou seja, outro placar enganoso a favor de Portugal.

Vale ressaltar ainda, que a nulidade dos lusitanos na capital dinamarquesa respingou sobre Cristiano Ronaldo, o astro que carrega pra si as atenções tanto nos momentos bons quanto nos ruins. E por ter feito a pior partida defendendo as cores de Portugal, de acordo com a sua própria avaliação, a continuidade do camisa 7 na seleção passou a ser bastante questionada pela opinião pública, juntamente com a do treinador Roberto Martínez, cuja principal crítica é a insistência em mantê-lo entre os titulares.

Diante deste contexto, a seleção portuguesa desembarcou em Lisboa pressionadíssima para encarar a Dinamarca no decisivo jogo que valia vaga na Final Four da Liga das Nações da Uefa, em especial o técnico Roberto Martínez, que inclusive estava sob risco de demissão caso Portugal não garantisse a classificação, apesar da proximidade de pouco mais de um ano da Copa do Mundo de 2026.

Ainda assim, os torcedores lusitanos, que lotaram o estádio José Alvalade, demonstraram total apoio à seleção de Portugal mesmo nas fases mais complexas da partida desde a penalidade desperdiçada por Cristiano Ronaldo, aos 6 minutos do primeiro tempo, até o gol marcado por Francisco Trincão, aos 41 minutos da etapa final, que levou o jogo à prorrogação após o suado triunfo dos portugueses por 3 a 2.

A propósito, Francisco Trincão, que havia entrado em campo aos 36 minutos do segundo tempo no lugar de Francisco Conceição, assumiu o rótulo de herói no estádio que conhece tão bem por ter balançado as redes no minuto inicial da prorrogação, o que se subentende que o meia do Sporting CP garantiu sua vaga no elenco da seleção portuguesa, algo difícil de afirmar em meio as constantes mudanças nas convocações de Roberto Martínez, capaz de não escalar no jogo de volta o melhor jogador da primeira partida contra a Dinamarca, como foi o caso de Pedro Neto.

Certamente, Francisco Trincão é o melhor jogador português em atividade na Liga Portugal, o que já o credencia a ganhar uma vaga no plantel lusitano. Ao mesmo tempo, é necessário destacar que ele entrou na partida num momento em que os dinamarqueses já estavam desgastados fisicamente, e o jogo apresentava um cenário favorável em razão da menor intensidade, além dos espaços deixados pela Dinamarca, tanto é, que Gonçalo Ramos marcou o quinto tento da goleada totalmente livre na pequena área, sem nenhum adversário o acompanhando.

À vista disso, é preciso fazer a leitura do jogo de Cristiano Ronaldo, que depois de jogar a partida inteira — em que perdeu um pênalti, porém deixou a sua marca — saiu esgotado nos acréscimos do segundo tempo, o que é natural para qualquer jogador de 40 anos de idade, até mesmo pra ele que é diferenciado no que diz respeito ao condicionamento físico.

Deste modo, não acho justas as críticas em torno de Cristiano Ronaldo que, além de preocupar os oponentes, continua jogando bem e chamando a responsabilidade em campo. Soma-se a isso, o apetite do craque português, que mesmo já tendo ganho diversos títulos e batido inúmeros recordes na carreira, disputa cada jogada como se estivesse lutando por um prato de comida. Aliás, uma postura contrária em comparação a Rafael Leão, que atua da mesma forma seja encarando a Dinamarca precisando de uma classificação, seja enfrentando o Empoli na Serie A.

Portanto, na minha opinião Cristiano Ronaldo ainda contribui e pode ser essencial para o sucesso de Portugal no Mundial da América do Norte. Logo, o maior problema dos portugueses são as escolhas do técnico Roberto Martínez, que no decorrer destes dois anos à frente da seleção lusitana não conseguiu nem ao menos formar um time titular. O que vemos neste instante são alguns jogadores garantidos entre os onze iniciais, dentre os quais se incluem Diogo Costa, Rúben Dias, Nuno Mendes, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e CR7, e só!

Consequentemente, a seleção portuguesa segue sem entrosamento por conta das frequentes mudanças de Roberto Martínez, que somente nos dois embates frente os dinamarqueses utilizou duas formações táticas diferentes, como o 4-2-3-1 e o 4-3-3, e realizou três trocas no time titular ao promover as entradas de Gonçalo Inácio, Bernardo Silva e Francisco Conceição nas vagas de Renato Veiga, João Neves e Pedro Neto.

Como resultado, Portugal se tornou um verdadeiro leão em Eliminatórias por enfrentar seleções de menor nível técnico, e um gatinho em torneios internacionais pelo fato de se deparar ante adversários mais qualificados, vide a campanha dos comandados de Roberto Martínez na última edição da Eurocopa, em que eles só convenceram na vitória por 3 a 0 sobre a Turquia, e embora tenham jogado melhor que a instável França nas quartas-de-final, acabaram sendo eliminados nos pênaltis.

Isto posto, é fundamental que o ‘Mister Simpatia’, Roberto Martínez, que hoje já não é tão simpático como antes, utilize as próximas partidas da Liga das Nações e das Eliminatórias para, enfim, definir a equipe base de Portugal, bem como o padrão tático do time. Por sinal, os portugueses enfrentarão a Alemanha na semifinal do torneio continental, e estão situados no grupo F da competição qualificatória ao lado de Hungria, Irlanda e Armênia — se livraram da chave composta por Grécia, Escócia e Bielorrúsia.

De qualquer maneira, a realidade é que depois de um longo ciclo de seis anos sofrendo sob a liderança de Fernando Santos, Portugal se vê novamente em uma encruzilhada com Roberto Martínez, afinal: demití-lo a 14 meses da Copa de 2026 para recomeçar um trabalho do zero, ou mantê-lo no cargo mediante a estagnada evolução da seleção?

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