Sexto colocado na edição anterior da Ligue 1, o Lyon está rebaixado à segunda divisão francesa. Pois é, embora surpreendente essa notícia é verídica já que a queda dos lioneses deu-se, não em função de resultados esportivos, mas sim administrativamente, devido a violações as regras do Fair Play Financeiro.
Vale ressaltar que os Les Gones já começaram o ano sofrendo duríssimas sanções da Direção Nacional de Controle de Gestão (DNCG), órgão que controla o Fair Play Financeiro na França. Não à toa, o Lyon ficou impossibilitado de realizar contratações na janela de janeiro, uma condição que irritou bastante o mandatário John Texto, cuja alternativa encontrada para reforçá-lo foi trazer alguns jogadores do Botafogo — o seu outro clube — através de empréstimos.
Consequentemente, Thiago Almada, Jeffinho e Adryelson desembarcaram em solo francês para defender as cores do Lyon, isto é, contratações que colaboraram para a evolução da equipe, em especial a do meia argentino, juntamente com chegada do treinador Paulo Fonseca, a julgar pela 5ª melhor campanha realizada na Ligue 1 sob o comando do treinador português desde a 20ª rodada, marcada por 9 vitórias e seis derrotas em 15 partidas disputadas.
A propósito, é importante destacar que o Lyon também esteve muito próximo da decisão da Europa League, isso porque o Manchester United marcou os últimos dois gols do triunfo por 5 a 4 nas semifinais do torneio continental, nos acréscimos da prorrogação, quando os franceses venciam o jogo de volta no Old Trafford, por 4 a 3, após empate em 2 a 2 no Groupama Stadium.
C’est terminé pour cette saison 2024/2025 renversante ! 😮💨
— Ligue 1 McDonald's (@Ligue1) May 17, 2025
À quelle place a terminé votre équipe ? 💬 pic.twitter.com/4m8SVTnFbe
De qualquer maneira, por mais que esportivamente o Lyon não tenha decepcionado depois de um turbulento início de temporada, fora das quatro linhas a situação chegou ao limite extremo com o rebaixamento à Ligue 2. Por sinal, para evitar o primeiro retorno à segunda divisão em 37 anos, o clube sete vezes campeão francês precisa desembolsar o montante de 70 milhões de euros, o que significa que a linha que separa o abismo e a esperança é bastante tênue pelos lados de Décines-Charpieu.
Inclusive, o gesto que mais sinaliza as chances de uma possível reviravolta do Lyon em relação ao descenso foi a renúncia de John Textor à presidência, ao passar o bastão à sucessora Michele Kang, que já havia comprado o time feminino dos Les Gones, além da indicação de Michael Gerlinger como o novo CEO do clube, ambos sócios da Eagle Football Holdings — empresa controlada pelo magnata norte-americano.
Seja como for, os novos gestores do Lyon já travam uma verdadeira batalha na busca pela sobrevivência na Ligue 1, tentando acionar algumas alavancas financeiras e, ao mesmo tempo, trabalhando na negociação de atletas, lembrando que 52 milhões de euros foram faturados até o momento por intermédio das vendas de Rayan Cherki, Said Benrahma, e Amin Sarr.
Ademais, as saídas de Alexandre Lacazette e Nicolás Tagliafico devido ao término dos seus respectivos contratos, aliadas ao encerramento dos empréstimos de Warmed Omari e Thiago Almada, já deram um alívio na folha salarial. Portanto, as expectativas agora giram em torno das possíveis transferências de Malick Fofana e Georges Mikautadze, ou seja, os jogadores mais valiosos do Lyon.
Vilão no Lyon, ídolo no Botafogo. O controverso John Textor adquiriu 77,49% do clube francês em dezembro de 2022, por cerca de 800 milhões de euros.
Outra possibilidade para o Lyon permanecer na elite francesa responde pelo nome de ARES Management, fundo de investimento norte-americano e credor da Eagle Football Holdings, que tem o interesse de comprá-lo a fim de evitar um colapso para os torcedores lioneses, para a cidade, e para próprio o ecossistema do futebol francês. Então, com a entrada de um novo capital oriundo da compra do clube, os Les Gones teriam como injetar os 70 milhões de euros ainda pendentes junto à DNCG, além de comprovar as garantias financeiras de, pelo menos, 100 milhões de euros para a disputa da Ligue 1.
Além disso, a inusitada saída de cena de John Textor é outro fator que também ameniza o clima de tensão envolvendo o Lyon e a DNCG, que vinha sendo alvo de pesadas críticas do dono do Botafogo, sobretudo considerando a harmoniosa relação com a nova presidente Michele Kang, somada a credibilidade de Michael Gerlinger, conhecido no mundo da bola pela trajetória de sucesso nos 18 anos em que trabalhou no Bayern de Munique como diretor de negócios esportivos.
Por fim, a nomeação de Michele Kang também agradou o maior crítico de John Textor, Jean-Michel Aulas, que conhece o Lyon como poucos por tê-lo presidido durante 36 anos — incluindo o glorioso período do heptacampeonato francês —, em virtude do perfil vanguardista, presente, amistoso, e muito menos intervencionista que o antecessor, da primeira mulher a chefiar o clube.
Félicitations à Michèle Kang pour sa nomination à la tête de l’OL.
— Jean-Michel AULAS (@JM_Aulas) June 30, 2025
Ce club mérite le meilleur : de l’ambition, de la passion et de la loyauté.
Je resterai, comme toujours, pleinement engagé pour l’OL, disponible depuis la place qui est la mienne, attentif, et fidèle à ce que nous… https://t.co/JYGgaEwFp6
Seja como for, todas as incertezas referentes ao futuro seguem comprometendo totalmente o planejamento do Lyon visando a temporada 2025-26, afinal o treinador Paulo Fonseca não sabe nem qual divisão o time disputará, tampouco o elenco que terá à disposição. Aliás, até mesmo a participação dos lioneses na Europa League depende tanto da sua permanência na Ligue 1, quanto do pagamento de 50 milhões de euros do acordo estabelecido com a UEFA.
Diante deste cenário, o Lyon se mantém estagnado no mercado sem nenhum indício de reforços, por mais que Paulo Fonseca tenha solicitado as contratações de um volante, um ponta, um atacante, além de um lateral-esquerdo para substituir Nicolás Tagliafico. Em contrapartida, os agentes dos jogadores que ainda continuam no clube trabalham para negociá-los, a exemplo do goleiro Lucas Perri que tenta transferir-se ao Monaco.
Em todo o caso, de concreto mesmo é que, independente da continuidade na Ligue 1, o Lyon adotará uma linha de conduta rígida, que abrange uma política mais austera sob a gestão de Michele Kang, o que se subentende que as negociações envolvendo Moussa Niakhaté e Orel Mangala não serão concluídas, da mesma maneira que grandes investimentos estão completamente fora de cogitação.
Em outras palavras, a avalanche chamada John Textor causou enormes estragos ao Lyon que, literalmente, terá de se reconstruir na próxima temporada. Ao menos, uma das páginas mais trágicas da história do clube já foi virada com a renúncia do ex-presidente.