Com o revés diante da Itália – nas penalidades – no estádio de Wembley, a Espanha despediu-se da Euro2020. Mas apesar da duríssima queda nas semifinais, o esquadrão de Luis Enrique deixou a competição repleto de expectativas em relação ao Mundial de 2022.
Quando a Espanha estreou na Euro2020, nem mesmo os torcedores presentes no estádio de La Cartuja acreditavam no sucesso da Fúria no torneio, sobretudo em função das pífias campanhas dos espanhóis na edição anterior da Eurocopa, e nas Copas de 2014 e 2018. Entretanto, diversos eram os problemas que assolavam os campeões mundiais naquela oportunidade, a começar pela enorme desconfiança por parte da mídia local, especialmente a ala residente em Madrid, que não aceitava o fato de Luis Enrique comandar a seleção devido a sua forte ligação junto ao Barcelona.
Para quem não se recorda, Luis Enrique trocou o Real Madrid pelo Barcelona em 1996, e por lá ficou até o término de sua carreira profissional, lembrando que depois que o ex-meia pendurou as chuteiras, ele também dirigiu o Barça entre os anos de 2014 a 2017, conquistando inclusive a Champions League neste período. Por este motivo, muitos jornalistas madrilenhos literalmente passaram a ignorar a seleção espanhola desde que o treinador de 51 anos de idade assumiu o cargo antes ocupado por Fernando Hierro.
Em 24 jogos à frente da seleção espanhola, Luis Enrique coleciona 12 vitórias, 8 empates e quatro derrotas, obtendo 61% de aproveitamento através desta boa performance.
Todavia, a insatisfação da mídia madrilenha aumentou ainda mais depois que Luis Enrique não chamou NENHUM atleta do Real Madrid para defender a Espanha na Euro2020, algo que jamais havia ocorrido até então, já que o mais próximo disso aconteceu na Copa do Mundo de 1950, no Brasil, quando Luis Molowny foi o único jogador merengue no elenco espanhol. E para piorar a situação, Álvaro Morata, considerado um traidor pelos madridistas, estava presente na lista de convocados.
Contudo, a verdade é que Luis Enrique escolheu somente jogadores capazes de absorver e praticar a ideia de jogo estipulada por ele, com maior facilidade no selecionado espanhol. Como todos sabemos, o maior desafio de um treinador internacional é a falta de tempo para treinar a sua respectiva seleção, logo, para que esse processo fosse mais rápido e eficaz, o ex-técnico do Barcelona convocou atletas com características que se encaixavam melhor na nova filosofia da Espanha.
Dos 24 espanhóis convocados para a disputa da Euro2020, apenas seis estiveram presentes na Copa do Mundo de 2018. Isso faz parte do processo de renovação de Luis Enrique na seleção da Espanha.
Assim, a Espanha mostrou-se inovadora desde a sua estreia na Euro2020. Armada no 4-3-3, a Fúria trazia consigo algumas características da seleção de Vicente Del Bosque, como é o caso da posse de bola. No entanto, a capacidade da equipe de Luis Enrique em controlar a partida é muito maior, e tudo porque o treinador adiantou as linhas do time, tornou o jogo mais vertical, ajustou o posicionamento de meio-campistas e atacantes, que agora buscam fechar todos os espaços com o objetivo de recuperar a bola rapidamente no campo do adversário, pegando-o de surpresa.
Mas para seguir esta filosofia, é necessário que todos os jogadores se movam de maneira sincronizada, o que exige muitos dias de treinamento para que ela seja absorvida perfeitamente. Isso explica porque os espanhóis foram evoluindo partida após partida na Euro2020, tendo em vista que a Espanha não jogou tão bem na estreia contra a Suécia quanto no duelo contra a Itália nas semifinais. A ausência de Sergio Busquets nos dois primeiros jogos do torneio, também retardou a evolução da Fúria, já que o volante do Barcelona é uma das principais peças do esquema de Luis Enrique.
Portanto, apesar da queda nas semifinais da Euro2020, é inegável que os espanhóis progrediram ao longo dos 37 dias em que estiveram juntos para a disputa da competição. Não à toa, a Fúria segue com o melhor ataque da Eurocopa (13 tentos), com o maior índice de posse de bola (72,7%), maior média de finalizações por partida (15), passes certos por jogo (755), com maior chances de gols criadas (28), além de ser dona da maior média de cruzamentos precisos no torneio (7 p/jogo). Ou seja, quer queira quer não, a Espanha se renovou sob o comando do antes questionado Luis Enrique!