As primeiras cartadas de Roberto Martínez à frente da seleção portuguesa

Dois jogos, duas vitórias, dez gols marcados e nenhum sofrido. Pois é, os números retratam que o início de Roberto Martínez não poderia ter sido melhor à frente de Portugal, apesar do baixíssimo nível técnico dos oponentes Liechtenstein (4 a 0) e Luxemburgo (6 a 0).

Contudo, a realidade é que estes dois triunfos nas duas rodadas iniciais das Eliminatórias da Eurocopa de 2024, representam o surgimento de uma nova era na seleção portuguesa após longos nove anos – ou 109 jogos – sob a liderança do ex-treinador Fernando Santos.

Obviamente, a passagem de Fernando Santos pela seleção de Portugal ficou marcada de forma positiva devido ao inédito título da Eurocopa, em 2016, além da conquista da primeira edição da Liga das Nações da UEFA, em 2019. Em contrapartida, também é verdade que o futebol praticado pelos lusitanos jamais convenceu neste período.

Vale ressaltar que em 2014, Fernando Santos assumiu o comando de Portugal trazendo consigo a missão primordial de apaziguar o ambiente tenso que assolava a seleção em função das conturbadas relações dos antecessores Carlos Queiroz e Paulo Bento junto ao grupo de atletas, o que se subentende que ele teve êxito nesta tarefa.

Por outro lado, Roberto Martínez chegou ao selecionado português tendo como prioridade extrair o máximo possível de seus jogadores em campo, justamente com a finalidade de mudar a filosofia de jogo pragmática e impugnada em Portugal há quase uma década, por um sistema ofensivo, dinâmico, intenso e fluído, de acordo com a qualidade de suas peças.

Por sinal, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) deixou essa intenção bem evidente quando escolheu Roberto Martínez para suceder Fernando Santos no cargo, a julgar pela principal característica da Bélgica, uma seleção que atuava de forma dominante, construindo o jogo desde a defesa até o ataque através da paciente troca de passes, o que inclusive fez os Diabos Vermelhos registrarem índices superiores a 75% de posse de bola em muitas partidas.

No entanto, o maior desafio de Roberto Martínez à frente de Portugal será realizar o processo de transição da seleção, que envolverá a exclusão de alguns integrantes da “velha guarda” portuguesa, e a inclusão de jovens talentos, lembrando que dentre os veteranos encontra-se ninguém menos do que Cristiano Ronaldo.

Mas para evitar conflitos e fazer uma transição tranquila, Roberto Martínez já sinalizou que Portugal não enfrentará uma grande revolução logo de cara, haja vista a primeira convocação do ex-treinador da Bélgica, que incluiu os experientes Rui Patrício, Pepe e Cristiano Ronaldo. Aliás, houveram somente três trocas em comparação a lista de atletas chamados para a disputa da Copa do Catar, vide as saídas de William Carvalho, Ricardo Horta e André Silva, e as entradas de Diogo Leite, Gonçalo Inácio e Diogo Jota.

“Cristiano Ronaldo é um jogador único. Tem o recorde mundial de jogos por seleções e nos traz uma experiência incrível e muito importante para o vestiário. Os jovens têm ‘ganas’ de atestar o seu valor, e jogadores como Cristiano, Rui Patrício e Bernardo Silva trazem a experiência necessária. É um vestiário muito completo. Cristiano é uma referência do vestiário e está preparado para liderar e ser capitão desta seleção.”

Roberto Martínez

A propósito, as palavras do novo comandante de Portugal para definir a importância do maior jogador português de todos os tempos, Cristiano Ronaldo, dão a entender que, pelo menos inicialmente, o camisa 7 está em seus planos para a disputa da Euro2024, cuja sede será a Alemanha. Quanto ao Mundial de 2026, essa já é outra história!

De qualquer maneira, a principal novidade de Portugal neste início de trabalho de Roberto Martínez diz respeito ao 3-4-3 utilizado pelo treinador de 49 anos de idade, ou seja, um sistema com três zagueiros que inexistiu na época em que Fernando Santos dirigiu a seleção portuguesa, e optava por formações baseadas em uma linha de quatro homens na defesa.

Seja como for, as goleadas sobre Liechtenstein e Luxemburgo ainda não servem como parâmetro para avaliarmos o nível de evolução de Portugal sob a prematura gestão de Roberto Martínez. Todavia, ambas demonstraram que este novo capítulo na história da seleção lusitana apresenta melhores perspectivas para um final feliz, do que o escrito anteriormente por Fernando Santos.

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