Um gol com sabor de vingança

A vitória do Barcelona sobre o Atlético de Madrid teve um sabor pra lá de especial ao atacante João Félix, afinal, ele não foi apenas o autor do gol que definiu o triunfo dos catalães pelo placar mínimo no estádio Olímpico de Montjuic, como também acabou se vingando do clube com o qual tem contrato até 2029.

Pois é, a trajetória de João Félix no Atlético de Madrid se apresentava próspera quando o ex-jogador do Benfica desembarcou na capital espanhola por 127 milhões de euros para defender as cores da equipe de Diego Simeone, mas contrariando totalmente as expectativas, a realidade é que ele se tornou a pior contratação da história do clube.

Embora João Félix negue, os principais motivos de seu insucesso no Atlético de Madrid foram a falta de consistência e de compreensão do sistema de jogo utilizado pelo técnico Diego Simeone, algo que fica claro conforme com as palavras do ex-companheiro, Antoine Griezmann:

Quando você chega a este clube, você sabe como é e como funciona o técnico. Ou você trabalha duro ou não terá sucesso. Houve momentos em que o João Félix trabalhou muito bem, mas é preciso ser consistente e ele não foi, até se cansar e sair.

Antoine Griezmann, atacante do Atlético de Madrid

Consequentemente, João Félix foi emprestado ao Chelsea no início do ano, época em que o Atlético de Madrid realizou uma incrível campanha de recuperação na segunda metade da temporada anterior que, inclusive, foi atribuída a saída do atleta português que, por sua vez, teve uma apagadíssma passagem pelo conturbado clube do oeste de Londres.

Assim, sem espaço no Atlético de Madrid, o jogador de 24 anos de idade acabou sendo emprestado ao Barcelona no último dia do fechamento da janela de transferências devido a escassez de propostas, o que segundo ele seria a realização de um sonho de infância. Por essas e outras, todas as atenções da 14ª rodada da LaLiga estavam voltadas ao jogo que valia a terceira posição da tabela, ou mais especificamente, ao embate envolvendo João Félix e Diego Simeone.

Contudo, para o desespero dos colchoneros, João Félix definiu a vitória do Barça aos 28 minutos da primeira etapa, depois de superar Jan Oblak em meio a uma bela finalização de cobertura. Na comemoração, o ex-jogador do Atlético de Madrid subiu em uma placa publicitária situada exatamente à frente da torcida visitante com a nítida intenção de provocá-la.

No final das contas, João Félix permaneceu 77 minutos em ação, acertou 37 de 41 passes concedidos, venceu sete de seus 12 duelos na partida, e foi o atleta mais caçado em campo com cinco faltas sofridas, amarelando dois jogadores do Atlético de Madrid – Axel Witzel e Cesar Azpilicueta.

No entanto, é importante destacar que a vitória por 1 a 0 foi magra por tudo o que o Barcelona produziu na partida onde o meio-campo da equipe se mostrou eficiente com o trio formado por Pedri, Frenkie de Jong e Ilkay Gundogan, atuando pela terceira vez juntos na temporada em razão da inusitada baixa de Gavi, que rompeu o ligamento do joelho no jogo entre Espanha e Geórgia pelas Eliminatórias da Eurocopa.

Todavia, tão entusiasmado quanto João Félix estava o presidente do Barcelona, Joan Laporta, sobretudo porque o sucesso do jogador do Atlético de Madrid na Catalunha representaria ao menos um contragolpe do Barça após as transferências de alguns atacantes que brilharam fazendo o caminho inverso, ou seja, que estavam em baixa vestindo a camisa blaugrana e deram a volta por cima defendendo as cores do clube madrilenho.

A começar pelo exemplo de David Villa, que transferiu-se do Barça ao Atleti em 2013 por míseros 5 milhões de euros, depois de três anos jogando no clube catalão. E na única temporada pelo Atlético de Madrid, o atacante campeão mundial em 2010 pela seleção espanhola conduziu os rojiblancos à final da Champions League e, o melhor, através dos 13 gols marcados em 36 jogos contribuiu diretamente para que eles saíssem da fila de 18 anos com a conquista do título da LaLiga.

Posteriormente, foi a vez de Luis Suárez deixar o Barcelona para ajudar os colchoneros a erguerem o caneco da LaLiga em 2021, época em que boa parte de seu salário ainda era pago pelos catalães, lembrando que neste intermédio Antoine Griezmann também percorreu a mesma rota depois de ser comprado pelos atuais campeões espanhóis por 120 milhões de euros e, pasmém, recomprado pelo Atlético de Madrid por 100 milhões de euros a menos.

Portanto, a boa atuação de João Félix, presenteada com o gol da vitória sobre o Atlético de Madrid, soou como uma espécie de recompensa ao Barcelona, e de revide por parte do atleta que não faz uma temporada brilhante, muito pelo contrário, são apenas dois gols e duas assistências em 12 jogos pela LaLiga, o que o mantém com o segundo pior número de gols comparados aos gols esperados de todo o plantel barcelonista, registrando uma taxa de -1,5, ficando somente atrás de Robert Lewandowski, cujo índice é de -2,2.

Deste modo, João Félix precisará de muito mais do que uma boa atuação contra o seu ex-clube se quiser seguir vivendo este conto de fadas na carreira, uma vez que o Atlético de Madrid espera recuperar boa parte do investimento feito quando o comprou em 2019, o que significa que o Barcelona precisará despejar cifras acima da casa dos 100 milhões de euros para contratar o atacante em definitivo ao término da temporada, mediante aos problemas financeiros que os assola.

Isto posto, que o “gol da vingança” sirva como um divisor de águas para João Félix evoluir e provar todo o seu valor ao Barcelona, ou então, um novo regresso à Madrid será inevitável na próxima temporada. A ver!

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