A troca de farpas via imprensa envolvendo Thomas Tuchel e o presidente honorário do Bayern de Munique, Uli Hoeness, às vésperas da primeira partida das semifinais da Champions League contra o Real Madrid, diminuíram ainda mais as expectativas dos bávaros em relação a um triunfo na Allianz Arena.
Aliás, enfrentar o ‘Rei da Europa’ não é uma tarefa fácil em nenhuma cirscuntância, tampouco vivendo um clima de tensão e uma temporada de total instabilidade, que teve início com o vice-título da Supercopa da Alemanha, passou pela precoce queda na DFB-Pokal (Copa da Alemanha) diante do modesto Saarbrucken, da terceira divisão, antes mesmo da chegada do Natal, e teve como principal componente a perda da primeira Bundesliga após 11 anos.
Inclusive, este combo de insucessos, aliado ao péssimo futebol praticado pelo Bayern, resultou na decisão da não continuidade de Thomas Tuchel após o término da temporada. Por outro lado, o Real Madrid desembarcou em solo alemão sustentando uma longa invencibilidade de 18 jogos, e isolado a 11 pontos de distância na liderança da LaLiga. Quer dizer, aspectos que acentuavam o favoritismo por parte dos espanhóis.
No entanto, o que muitos se esqueceram é que a realidade do Gigante da Baviera na Champions League era totalmente contrária, a julgar pela classificação ante o atual líder da Premier League, Arsenal, nas quartas-de-final, bem como pela campanha bem-sucedida da equipe que chegou nas semifinais assinalando apenas uma derrota em 10 jogos disputados (7V-2E).
A Lazio foi a única equipe capaz de derrotar o Bayern até aqui na Champions League. Os italianos bateram os alemães por 1 a 0 no estádio Olímpico, pelo jogo de ida das oitavas-de-final.
Talvez em razão de aspectos como tradição, história, camisa e reputação, os bávaros aproveitaram a única coisa boa ao longo da atual temporada ao tornarem a atmosfera da Allianz Arena completamente hostil, com direito a um mosaíco do lendário Franz Beckenbauer, e o Bayern de Munique novamente se tranformou a partir do instante que o hino da Champions League tocou. Ainda assim, no final das contas os pupilos de Thomas Tuchel saíram de campo insatisfeitos por terem jogado melhor e empatado em 2 a 2.
A propósito, o maior erro de qualquer oponente do Real Madrid na Champions League é não derrotá-lo quando se tem a oportunidade, afinal, como todos nós sabemos os merengues são absoloutamente letais, o Manchester City que o diga – eliminado por eles na fase anterior da competição depois de finalizar mais de 30 vezes, tocar na bola na área adversária em 88 ocasiões, e registrar 67% de posse de bola no Etihad Stadium.
Vale ressaltar que o brilhantismo de Toni Kroos, autor de uma belíssima assistência ao atacante Vinínius Júnior, foi crucial para que o Real Madrid encerrasse a primeira etapa com a vantagem mínima no marcador. Entretanto, no segundo tempo o Bayern precisou de apenas 12 minutos para virar o placar através dos tentos de Leroy Sané e, é claro, Harry Kane, desta vez de pênalti.
Todavia, o grande erro do Bayern foi tentar segurar a vitória por 2 a 1 ao invés de buscar o terceiro gol. Mais recuados, os alemães acabaram colocando o Real Madrid de novo no jogo, e foram punidos quando Vinícius Júnior converteu o infantil pênalti cometido pelo zagueiro Kim Min-jae, indiscultivelmente o pior dentre os titulares do Gigante da Baviera, haja vista as notas do Sofascore:
? | Bayern München 2–2 Real Madrid
— Sofascore (@SofascoreINT) April 30, 2024
• xG: 1.57 – 1.87
• Shots (on target): 14 (5) – 10 (4)
• Big chances: 3 – 3
• Possession: 52% – 48%
• Touches in opp. box: 32 – 21
For the fourth consecutive time at Allianz Arena, Los Blancos avoid defeat!#FCBRMA #UCL pic.twitter.com/Y1gLBVqYlW
Contudo, apesar do resultado não ter agradado, o desempenho do Bayern de Munique em uma noite de Champions League mais uma vez chamou a atenção, a começar pelas ótimas atuações de Joshua Kimmich, provando que continua sendo uma excelente opção na lateral-direita, e de Noussair Mazraoui deslocado para a lateral-esquerda onde neutralizou o brasileiro Rodrygo.
Na defesa, a má atuação de Kim Min-jae só não causou maiores estragos pois o companheiro de zaga, Eric Dier, fez uma partida impecável, recordando os bons tempos de Tottenham e de seleção inglesa, e porque no meio-campo o volante Konrad Laimer teve uma de suas melhores apresentações com a camisa do Bayern, ajudando tanto na marcação quanto no apoio ao ataque.
Por sinal, o jogo de Konrad Laimer evoluiu a partir da entrada de Raphal Guerreiro no lugar de Leon Goretzka depois do intervalo, já que através dessa troca o meio-campo ganhou maior dinamismo, fluidez e equilíbrio nos passes. Curiosamente, dois jogadores (Laimer e Guerreiro) que chegaram ao clube nesta temporada e ainda são bastante questionados pela torcida.
O Bayern não avançou em nenhum dos últimos quatro mata-matas de Champions League diante do Real Madrid, assinalando 6 derrotas, 2 empates, 9 gols marcados e 19 sofridos nestes oito compromissos.
Não obstante, o setor ofensivo destacou-se pela brilhante atuação do jovem Jamal Musiala, de 21 anos de idade, que sofreu o penâlti cometido por Lucas Vázquez e precisava mostrar o protagonismo que o concorrente Florian Wirtz apresenta no Bayer Leverkusen. Ademais, o gol de empate do Bayern saiu dos pés do renegado Leroy Sané, alvo de críticas desde o seu retorno ao futebol alemão em 2020 após quatro temporadas no Manchester City justamente por sumir em momentos decisivos. Pois é, ele apareceu!
Por fim, seria inevitável não reverenciar Harry Kane, artilheiro do Bayern com 43 gols em 43 jogos, registrando uma incrível média de um gol por partida em seu primeiro ano defendendo o clube alemão, e isso sem contar as 11 assistências concedidas pelo camisa 9 até aqui. Logo, fica claro e evidente porque a má fase do Gigante da Baviera na temporada passa longe do ex-atacante do Tottenham.
Portanto, a sensação deixada nos primeiros noventa minutos das semifinais da Champions League é a de que a temporada poderia ser diferente caso o Bayern tivesse repetido a boa exibição contra o Real Madrid no decorrer de toda a disputa da Bundesliga, o que muito possivelmente impediria o Bayer Leverkusen de ser campeão com cinco rodadas de antecedência.
Em contrapartida, os erros cometidos nos últimos anos, em especial ao priorizar a individualidade em vez do coletivo – a exemplo da chegada de Sadio Mané e a saída de David Alaba -, acabaram determinando o fim na hegemonia do Bayern na Bundesliga, e ainda pode estabelecer a sua despedida da Champions League, a não ser que a sequência das últimas quatro desclassificações frente o Real Madrid seja interrompida com a conquista da vaga na final em Wembley.