Quinhentos e sessenta e nove dias que mudaram o Aston Villa

Sob a ilustre visita de Tom Hanks, o Aston Villa recebeu o Liverpool, terceiro colocado da Premier League, em seu último jogo no Villa Park na temporada 2023-24 necessitando de uma simples vitória para conquistar a tão sonhada vaga da Champions League, o que parecia ser um enredo perfeito para qualquer roteirista de Hollywood.

Contudo, o bizarro erro cometido por Emiliano Martínez no primeiro lance do jogo, deu um tom completamente tenso ao filme que por pouco não se transformou num drama, a julgar que o Aston Villa perdia por 3 a 1 até os 40 minutos da segunda etapa, quando Jhon Durán, que havia acabado de entrar em campo no lugar do lesionado Nicolò Zaniolo, assumiu o papel de protagonista da trama ao marcar os dois gols que garantiram o empate em 3 a 3 no Villa Park.

Aliás, os tentos de John Duran também evitaram que o Aston Villa perdesse dois jogos seguidos na Premier League pela primeira vez desde maio do ano passado, além de impedirem com que o conjunto de West Midlands sofresse o seu quarto revés consecutivo depois das recentes derrotas ante Brighton e Olympiacos, que resultaram na queda dos ingleses nas semifinais da Conference League.

Deste modo, os torcedores do Aston Villa, dentre eles Tom Hanks, acabaram voltando pra casa satisfeitos em meio ao enorme de poder de reação por parte do Villa, o que tem sido a tônica da equipe sob a liderança de Unai Emery mesmo nos momentos que a sorte não contribui como foi o caso deste embate contra o Liverpool, em que Olie Watkins teve um tento anulado por estar a centímetros fora de jogo, e no qual o zagueiro Diego Carlos desperdiçou uma chance de balançar as redes praticamente encima da linha do gol.

No entanto, ao realizarmos uma análise mais ampla da campanha do Aston Villa, notamos que 39 dos 68 pontos registrados pela equipe que ocupa a quarta colocação da Premier League foram conquistados no turno, enquanto outros 29 foram computados no returno – podendo no máximo chegar a 32. Ou seja, um dado que sinaliza a queda de rendimento do clube de Birmingham no segundo semestre da temporada, o que já era esperado em função dos 55 jogos disputados pelos Villans.

Em todo caso, o balanço geral da temporada do Aston Villa teve um saldo pra lá de positivo, em especial porque com a vitória do Manchester City sobre o Tottenham por 2 a 0, em Londres, o Villa confirmou a vaga na Champions League com uma rodada de antecedência, retornando ao principal torneio de clubes da Europa após longos 41 anos de ausência.

E como não poderia deixar de ser, o maior responsável pela ascensão do Aston Villa responde pelo nome de Unai Emery, que desembarcou em Birmingham há exatos quinhentos e sessenta e nove dias tendo como primeiro desafio livrar os Villans do rebaixamento, lembrando que naquela oportunidade eles ocupavam a 15ª colocação da Premier League, separados a três pontos da zona da degola.

Entretanto, no final das contas Unai Emery não apenas salvou o Aston Villa do descenso como ainda o qualificou à Conference League, confirmando a presença do clube inglês em torneios continentais depois de 13 anos devido a sétima posição na tabela da Premier League, a sua melhor colocação desde o 6º lugar da temporada 2009-10, sob a batuta de Martin O’Neill.

Posteriormente, na primeira temporada completa à frente do Aston Villa, Unai Emery deu continuidade ao projeto de remodelar a cultura do clube e o desempenho da equipe que passou de candidata ao descenso a uma das principais postulantes à vaga na Champions League em um curto espaço de 15 meses. Por sinal, seis atletas que iniciaram o jogo de despedida de Steven Gerrard marcaram presença nesta última partida diante do Liverpool, o que significa que poucas peças mudaram desde a chegada do treinador espanhol.

Vale ressaltar ainda, que de acordo com especialistas no que diz respeito as partes tática e técnica, os treinamentos de Unai Emery são do maior nível possível, equivalentes aos aplicados por Pep Guardiola. Além disso, o workaholic treinador do Aston Villa costuma passar longas horas em salas de conferência de hotéis analisando vídeos e estudando imagens dos oponentes a fim de encontrar detalhes que possam definir um jogo.

Diante deste cenário, muito já se discute na Inglaterra se o Aston Villa não deveria adentrar ao bloco Big Six no lugar do Tottenham, ou então se não teria chegado o momento do seleto grupo dos gigantes do futebol inglês se expandir para sete componentes se tornando um Big Seven. Ainda assim, este é um assunto prematuro para ser discutido no calor do momento, tendo em vista que na temporada anterior essa mesma polêmica envolvia o nome do Newcastle.

Decerto, é que o Aston Villa respira aliviado após o prejuízo de 119,6 milhões de libras em impostos, oriundos dos exorbitantes gastos em contratações nas últimas temporadas que, inclusive, o colocaram no limite de infringir as regras do Fair Play Financeiro. Todavia, com o retorno à Champions League as receitas do Villa irão aumentar e, consequentemente, ajudar a aliviar os riscos de violação do próximo conjunto de contas, abrindo a possibilidade para mais investimentos.

Mas antes de planejar qualquer contratação, o objetivo primordial do Aston Villa é estender o vínculo contratual de Unai Emery até 2027, com o propósito de estabelecer uma nova dinastia no futebol inglês, assim como Arsène Wenger no Arsenal, ou Sir Alex Ferguson no Manchester United, afinal, sob o comando de Emery as expectativas estarão sempre altas em pelos lados de Birmingham, a mais nova sede da Champions League.

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