As primeiras impressões de Rúben Amorim no Manchester United

Oitenta e um segundos. Este foi o tempo que saiu o primeiro gol do Manchester United sob a liderança de Rúben Amorim, marcado pelo atacante Marcus Rashford no Portman Road, que gerou a clara sensação que os Red Devils goleariam o Ipswich Town na estreia do técnico português.

Em contrapartida, tudo não passou de uma ligeira impressão, tendo em vista que o clube recém-promovido à Premier League igualou novamente o marcador no final do primeiro tempo por intermédio do Omari Hutchinson, dando números finais ao jogo: 1 a 1. Aliás, um resultado injusto considerando que o Ipswich Town teve três grandes chances de gol contra apenas uma do Manchester United.

Como já era de se esperar, Rúben Amorim repetiu no Manchester United o mesmo esquema que utilizou ao longo dos quatro anos e sete meses que comandou o Sporting CP, isto é, o 3-4-2-1, implementando um sistema com três zagueiros no time inglês pela primeira vez desde 2016, quando os Red Devils ainda eram dirigidos por Louis van Gaal. Curiosamente, época em que o veterano Jonny Evans integrava a equipe.

Logo, apesar do pouco tempo de trabalho — três dias no caso, uma vez que Rúben Amorim assumiu o Manchester United em meio a realização da última Data Fifa do ano, onde diversas peças defendiam as suas respectivas seleções —, o jovem técnico português mostrou-se ousado ao promover uma abrupta mudança no que diz respeito a parte tática, lembrando que os jogadores estavam adaptados ao 4-2-3-1, usado pelo antecessor, Erik ten Hag, durante a sua passagem por Old Trafford.

Deste modo, o jovem treinador de 39 anos de idade escalou o Manchester United com Jonny Evans, Matthijs de Ligt e o lateral-direito Noussair Mazraoui, improvisado na defesa, compondo uma linha de três homens, enquanto Amad Diallo, Casemiro, Christian Eriksen e Diogo Dalot formaram o meio-campo com Bruno Fernandes e Alejandro Garnacho posicionados um pouco mais adiante, ambos atrás do atacante Marcus Rashford.

Mapa de passes do Manchester United contra o Ipswich Town.

Em termos de comparação, Marcus Rashford teve a missão de desenvolver o mesmo papel de Viktor Gyokeres no Sporting CP, uma ideia que pode funcionar em razão das características do atacante inglês que, assim como o sueco, se movimenta bastante, ora estando posicionado entre os zagueiros, ora jogando entre o zagueiro e o lateral adversário. Não à toa, o camisa 10 do Manchester United voltou a balançar as redes após passar oito jogos em branco.

Ademais, ficou evidente que Rúben Amorim deseja que Bruno Fernandes seja o seu Pedro Gonçalves no Manchester United, ou seja, o principal responsável pela criação de jogadas e bolas paradas, vide a enorme qualidade do ex-jogador do próprio Sporting CP, enquanto Alejandro Garnacho atua de forma mais aguda, acelerando o jogo e dando maior velocidade ao time.

Já os alas, Amad Diallo e Diogo Dalot, fechavam uma linha de cinco defensores nos momentos em que o Manchester United estava sem a bola, porém na fase ofensiva exploravam o corredor atuando como verdadeiros pontas. Ao mesmo tempo, Casemiro jogou de forma posicional à frente dos zagueiros, enquanto Christian Erikssen colaborava mais no ataque através de passes progressivos e inversões de jogadas.

Por fim, Rúben Amorim, adepto a utilizar zagueiros com qualidade na saída de bola e passes longos, deu a entender que Luke Shaw poderia se tornar uma opção no lado esquerdo da defesa ao colocá-lo no lugar de Jonny Evans, aos 11 minutos da etapa final. No entanto, uma percepção que, certamente, deve ter mudado depois da fraca atuação do lateral que não jogava desde a temporada anterior.

Mapa de posicionamento dos jogadores Manchester United.

Contudo, a realidade foi que o Manchester United não reproduziu nem de longe o futebol praticado pelo Sporting CP, sobretudo em virtude da parte física da equipe que parece sempre cansada em campo. Assim, sem dinamismo, intensidade e, tampouco velocidade, os pupilos de Rúben Amorim foram incapazes de pressionar a saída de bola do oponente. Por sinal, nas ocasiões em que eles tentaram marcar em linha alta acabaram sofrendo jogadas de perigo.

Não por um acaso, na entrevista pós-jogo Rúben Amorim afirmou que o Manchester United demorará um certo tempo para ganhar o ritmo ideal, já que para isso será necessária a evolução física por parte dos atletas, o que, inclusive, ele coloca como ponto primordial. Todavia, outro detalhe não menos relevante é a falta de confiança, afinal, os jogadores se mostram completamente inseguros em campo, tanto é, que em nenhum instante da partida o United deu sinal que venceria o Ipswich Town.

Obviamente, a pressão em torno do clube que não vence a Premier League há mais de uma década, somada aos altíssimos investimentos realizados a cada temporada, recai tanto sobre os atletas, quanto sobre o treinador. Por outro lado, o único aspecto positivo para Rúben Amorim é que o Manchester United tem a filosofia de manter os técnicos no cargo durante longos períodos por pior que seja a situação, haja vista os duradouros trabalhos de Ole Gunnar Solskjaer e Erik ten Hag.

Em todo o caso, para navegar em águas calmas será fundamental Rúben Amorim colocar o Manchester United rapidamente no caminho das vitórias, nem que seja através de um futebol abaixo das expectativas. E como essa rota não começou a ser traçada em sua estreia contra o Ipswich Town, que ela seja trilhada no Old Trafford diante de Bodo/Glimt e Everton, os dois próximos adversários dos Red Devils.

A ver!

2 Comentários

  1. Time do United conta com um elenco muito bem qualificado, grandes jogadores, porém nessa Premier League não tem apresentado seu melhor Futebol, apesar de estar no meio do campeonato ainda. Se quiserem ganhar alguma coisa o que eu acho difícil, tem que jogar muita bola, já que a diferença pro primeiro colocado é de 15 pontos.

    • JoaoRicardo Responder

      O maior erro foi a demora para demitir Erik ten Hag. O holandês deveria ter saído no meio do ano, após o título da FA Cup. No entanto, a diretoria não apenas o manteve no cargo, como ainda renovou o seu contrato. Como resultado, jogou essa temporada no lixo. Agora será difícil recuperar o tempo perdido, por mais que Rúben Amorim faça um trabalho incrível. Assim, restou ao United lutar por uma vaga na próxima edição da Champions League, o que seria um verdadeiro título.
      Mais uma vez, muito obrigado pelo comentário!

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