Um mísero ponto separa o líder, Napoli, dos quatro vice-colocados da tabela de uma das edições mais acirradas de todos os tempos da Serie A — certamente, a mais disputada da Europa na atualidade — após o encerramento da 13ª rodada.
Pois é, e o pelotão dos segundos colocados incluem as equipes de Atalanta, Inter de Milão, Lazio, além da Fiorentina, a grande surpresa do futebol italiano neste início de temporada, sobretudo por conta da grande reformulação que o clube de Florença enfrentou no meio do ano com as chegadas e saídas de jogadores, bem como a troca no comando técnico do time perante a vinda de Raffaele Palladino para substituir Vincenzo Italiano.
Em todo o caso, é importante salientar que a maioria dos torcedores da Fiorentina eram a favor da saída de Vincenzo Italiano — em especial, devido ao pragmático futebol praticado pela equipe —, cuja insatisfação aumentou ainda mais após o segundo vice-título seguido da Conference League. Por outro lado, o que a torcida não imaginava era que Raffaele Palladino seria o nome ideal para sucedê-lo em meio a perda de significativas peças como Nico González, Giacomo Bonaventura, e o ex-capitão Nikola Milenkovic.
No entanto, assim como já havia feito nas duas temporadas anteriores à frente do Monza, rapidamente Raffaele Palladino conseguiu implementar a sua filosofia na Fiorentina, a julgar pela atual sequência de nove partidas seguidas sem reveses na Serie A, composta por sete vitórias nos últimos sete jogos disputados, lembrando que os Gigliati foram derrotados uma única vez até a 13ª rodada.
Após começar a temporada utilizando sua formação predileta, o 3-4-2-1 — inspirado em sua referência, Gian Piero Gasperini —, Raffaele Palladino se viu obrigado a mudar e usar o esquema do antecessor Vincenzo Italiano, no caso, o 4-2-3-1, em virtude da série negativa de 3 empates e 1 derrota nas quatro rodadas iniciais da Serie A, a fim de minimizar o impacto causado pela abrupta mudança na estrutura tática do time.
De lá pra cá, a Fiorentina segue invicta na Serie A, e sofreu apenas uma derrota diante do Apoel (2×1), no Chipre, pela Conference League. A propósito, um período que engloba difíceis enfrentamentos contra Lazio, Milan e Roma, tal como como as goleadas por 6 a 0 sobre o Lecce em pleno Stadio Via del Mare, e 5 a 1 frente os próprios Giallorossi no Artemio Franchi.
Mas além dos resultados positivos, fora das quatro linhas Raffaele Palladino desenvolveu um trabalho fundamental na parte mental da equipe, transmitindo enorme segurança aos jogadores através de conversas em grupo, ou em particular com cada um deles. Ademais, a ideia de não utilizar os termos titulares e reservas para não dividir o elenco, trocando-os por palavras como coragem, trabalho, serenidade e ambição, fez sucesso no vestiário.
Outro detalhe não menos relevante é que o novo comandante da Fiorentina logo percebeu a simbiose existente entre o clube e a cidade de Florença, onde a Viola é uma espécie de eletrocardiograma da capital do Renascimento. Logo, com a intenção de fortalecer essa conexão, Raffaele Palladino constantemente afirma que a entrega dos atletas é motivada pelo cotidiano dos florentinos, sem nunca deixar de saudá-los depois das partidas.
A Fiorentina não ganhava sete partidas consecutivas pela Serie A desde 1969, e não ficava cinco jogos seguidos sem sofrer gols como visitante há 17 anos.
Desta maneira, Raffaele Palladino conseguiu a proeza de romper a barreira da desconfiança na, difícil de ser conquistada, cidade de Florença, gerada principalmente por sua falta de experiência, a ponto inclusive dos Gigliati reviverem na memória os grandes momentos sob o comando de Cesare Prandelli, o último treinador que os classificou à Champions League na temporada 2008-09.
Consequentemente, a Fiorentina se colocou entre os principais concorrentes na briga pelo scudetto italiano, passando as duas rodadas anteriores da Serie A na vice-posição da classificação, tendo como destaques o vice-artilheiro do campeonato com 9 gols, Moise Kean, além do goleiro David De Gea, que aceitou o desafio de vestir a camisa da Viola após deixar o Manchester United ao término da temporada passada e ficar um ano parado desde então.
A equipe tem duas qualidades essenciais: motivação e valores. Ambas têm de crescer sempre, dentro e fora de campo. Felizmente é maravilhoso treiná-los, estou muito contente com o que eles estão fazendo, e como estão fazendo.
Raffaele Palladino, treinador da Fiorentina
A aposta em jovens como o zagueiro Pietro Comuzzo, recentemente convocado pelo treinador Luciano Spalletti para defender as cores da seleção italiana, e o atacante Tommaso Rubino, que no auge dos 17 anos de idade estreou pela Fiorentina na partida contra o Genoa, demonstram a pré-disposição de Raffaele Palladino em trabalhar com as categorias de base, algo que se torna mais fácil quando o técnico do conjunto primavera é o amigo Daniele Galloppa.
Ainda assim, competindo em três frentes na temporada, é óbvio que os comandados de Raffaele Palladino não figuram entre os favoritos na corrida pelo scudetto da Serie A, um cenário que muda em relação as copas, até porque as finais de Conference League e Coppa Itália nas últimas duas temporadas dão claros sinais que o primeiro título em décadas está cada vez mais próximo da capital da Toscana.
Seja como for, tão bom quanto a sensação de que uma conquista está amadurecendo para a Fiorentina, é a certeza de que um trabalho promissor está sendo desenvolvido por Raffaele Palladino, que mesmo com poucos ingredientes vem se mostrando capaz de servir refeições que não apenas alimentam, como satisfazem a todos os florentinos.