A lua de mel entre o técnico Thiago Motta e a torcida da Juventus acabou depois do empate em 1 a 1 contra o Lecce, nada menos que o terceiro consecutivo e o DÉCIMO dos bianconeri em 19 jogos na temporada.
Na realidade, o principal obstáculo de Thiago Motta nestes primeiros quatro meses à frente da Juventus são as expectativas pra lá de altas devido tanto ao excelente trabalho realizado em sua recente passagem pelo Bologna, quanto aos mais de 160 milhões de euros investidos pelo clube do Piemonte em contratações de novos reforços na última janela de transferências.
Soma-se a isso, o fato de que os bianconeri vinham de duas apagadas temporadas sob a batuta de Massimiliano Allegri que, diferentemente do nome, era adepto a um modelo de jogo “triste”, sobretudo em virtude do enorme pragmatismo do futebol resultadista praticado por sua equipe. Logo, a chegada de Thiago Motta à Turim, trazia consigo a esperança de uma nova forma de jogar, é óbvio, mais dinâmica, intensa e ofensiva.
No entanto, apesar da enorme revolução feita através das saídas e chegadas de diversos jogadores, Thiago Motta ainda não foi capaz de criar uma identidade ao time. Inclusive, a Juventus faz uma campanha inferior em relação a temporada anterior, quando neste mesmo estágio da Serie A ocupava a vice-colocação da tabela com sete pontos a mais do que os atuais 26 assinalados, conforme destacado abaixo:
Serie A (14 jogos) | 2023-24 | 2024-25 |
Posição | 2ª | 6ª |
Pontos | 33 | 26 |
V-E-D | 10-3-1 | 6-8-0 |
Gols Marcados-Sofridos | 22-9 | 22-8 |
Aproveitamento | 78,5% | 61,9% |
A propósito, embora ostentando o rótulo de ser o único clube invicto na Serie A, a Juventus igualou o seu maior número de empates nas 14 primeiras rodadas da competição, que pertencia exclusivamente aos oito registrados na temporada 1980-81, lembrando que os pupilos de Thiago Motta são os que mais empataram até o momento dentre as cinco principais ligas europeias. Para se ter uma ideia, são mais da metade das partidas disputas contabilizando um ponto.
A Juventus encerrará 2024 com mais empates obtidos em um ano corrido na história da Serie A. No geral, foram 18 resultados de igualdade, que superam os 17 de 1956.
Pois é, e uma das explicações de Thiago Motta para justificar este rendimento abaixo do esperado intensificado por uma série de empates são os excessivos casos de lesões, a julgar que nove atletas desfalcaram a Juventus no último jogo contra o Lecce, algo que vem se tornando recorrente já que oito peças não viajaram à Birmingham para encarar o Aston Villa pela Champions League, condição esta, que obrigou o técnico ítalo-brasileiro a escalar apenas quatro jogadores de linha e dois goleiros para compor o banco de reservas.
Diante deste cenário, Thiago Motta segue encontrando dificuldades para implementar a sua filosofia de jogo na Juve. Por mais que ele tenha utilizado o 4-2-3-1 — seu esquema predileto — na maioria das partidas até aqui, o jovem treinador de 42 anos de idade não consegue repetir escalações em meio a tantas baixas desde o início da temporada e, consequentemente, os jogadores não se adaptam aos seus padrões.
Ainda assim, é inegável que os bianconeri deveriam estar em um nível mais avançado, em especial porque eles apresentam algumas características bastante semelhantes as do Bologna da temporada passada, também dirigido por Thiago Motta. A primeira delas é o baixo poderio ofensivo, vide os 22 tentos marcados pela Juventus em 14 jogos na Serie A, que a mantém somente com o sexto melhor ataque do campeonato.
Vale ressaltar ainda, que o Bologna terminou a última edição da Serie A com o sétimo ataque mais goleador do torneio por ter balançado as redes as mesmas 54 vezes que a Juventus, de Massimiliano Allegri, em 38 rodadas. Em outras palavras, o equivalente a uma média de 1,42 gol por partida, uma marca muito próxima ao índice de 1,51 que a Juve registra nesta temporada, um dado que também se traduz nas colocações de ambos em grandes chances criadas (8ª Bologna / 7ª Juventus), o que demonstra que Thiago Motta precisa evoluir na parte ofensiva.
Em contrapartida, na atualidade a Juventus lidera a Serie A no que diz respeito a média de posse de bola com uma elevada taxa de 61,1%, e é dona da segunda melhor defesa da competição com míseros 8 gols sofridos, estando uma posição à frente daquele Bologna que foi segundo em média de posse de bola com um percentual de 58,3%, e se despediu da temporada 2023-24 com a terceira defesa menos vazada ao ser superado em 32 oportunidades.
O Stuttgart foi o único oponente que derrotou a Juventus até então na temporada 2024-25. De resto, foram 8 vitórias e dez empates em 18 compromissos.
Portanto, fica evidente que a solidez defensiva e a imposição através da posse de bola continuam sendo aspectos dominantes no sistema de Thiago Motta, ou seja, atributos que em outros clubes, como é o caso do Bologna, até convenceriam a torcida, mas que não servem para a Juventus, que vislumbrava inovadoras abordagens táticas, técnicas e de jogo, depois do desgastante, arrastado e quase interminável ciclo de Massimiliano Allegri.
Sob todos estes aspectos, ao menos inicialmente a sensação é a de que nada mudou após a saída de Massimiliano Allegri e a chegada de Thiago Motta ao comando técnico da Juve. Não à toa, o ex-treinador do Bologna recebeu as primeiras vaias desde que desembarcou em Turim depois do empate com o Lecce, pois ainda que seja um começo de trabalho as comparações junto a Antonio Conte, recentemente contratatado pelo líder Napoli, acabam sendo inevitáveis entre os torcedores.
Contudo, a confiança da cúpula diretiva da Juventus, liderada pelo diretor esportivo Cristiano Giuntoli, segue intacta acerca de Thiago Motta, cuja intenção é receber um novo zagueiro na janela de janeiro em função das graves lesões sofridas por Bremer e Juan Cabal. Inclusive, Sam Beukema, Milan Skriniar e Radu Dragusin estão na mira do clube italiano.
Seja como for, a tendência é que os bianconeri se fortaleçam com o retorno dos atletas atualmente fora de combate no departamento médico. Ao mesmo tempo, se a Juventus não progredir a insatisfação da torcida certamente aumentará a ponto de não apenas o presente, mas também o futuro de Thiago Motta ter um desfecho similar ao do antecessor Massimiliano Allegri, que ainda parece habitar a capital do Piemonte.
1 Comentário
A impressão que dá é que o time luta pra não perder, tendo essa quantidade de empates nessa temporada. Claramente há um desequilíbrio na equipe, onde o ataque não tem sido tão eficiente e a defesa cumpre seu papel para que a situação não fique pior. E os desfalques podem ser um dos principais motivos pra essa má fase.