A comemoração dos 125 anos da fundação do Milan ficou marcada pelo apagado empate sem gols com o Genoa em pleno San Siro, que empurrou os Rossoneri ao oitavo lugar da Serie A, somando 23 pontos em 15 jogos.
Em outras palavras, um resultado que simboliza perfeitamente a atual fase vivida pelo Milan, que desde a conquista do último scudetto da Serie A há dois anos e meio, entrou num verdadeiro colapso sob a gestão de Gerry Cardinale, se tornando um clube sem perspectivas, nada competitivo, rompido com a própria torcida, dividido dentro de campo, e que fora das quatro linhas já viu o técnico Paulo Fonseca perder o controle do vestiário.
Até aqui, foram 197,6 milhões de euros gastos pelo Milan desde que a sua venda foi efetivada junto ao grupo norte-americano, o que significa que os dois últimos mercados do clube foram de qualidade. Não por um acaso, de acordo com o site ‘Transfermarkt’, os Rossoneri são donos do terceiro elenco mais valioso da Serie A na atualidade, estando somente atrás de Inter de Milão e Juventus, respectivamente.
Na realidade, a falta de protagonistas no elenco é um dos principais problemas que assola o Milan, pois apesar do inegável talento de figuras como Rafael Leão, Christian Pulisic, Tijjani Reijnders e Theo Hernández, nenhum deles se mostra capaz de sustentar uma regularidade a ponto de decidir jogos de forma constante, ou então, assumir a responsabilidade em momentos controversos.
Inclusive, era esperado que Álvaro Morata assumisse esse papel, dada a sua enorme experiência depois de passagens pelas três principais forças do futebol espanhol, pelo Chelsea, e mais recentemente como capitão da Espanha na conquista da Euro 2024. Entretanto, os míseros cinco tentos assinalados pelo camisa 7 nas 17 partidas realizadas por ele defendendo as cores do Milan, comprovam que a sua contratação é, verdadeiramente, decepcionante até agora.
Christian Pulisic, o grande destaque do Milan na temporada, já não balança as redes pela Serie A desde o final de outubro, isto é, há exatas oito rodadas.
E sem uma referência em campo, a queda de rendimento do Milan ocorreu de forma mais acelerada, algo que a diretoria não imaginava por acreditar que o problema do time era o treinador campeão do 19º scudetto milanista, Stefano Pioli, muito por conta da insatisfação da torcida, que se intensificou após a histórica sequência negativa de SEIS derrotas consecutivas no Derby della Madonnina.
Data | Derby della Madonnina | Torneio |
18/01/2023 | Milan 0x3 Inter | Supercoppa (f) |
05/02/2023 | Inter 1×0 Milan | Serie A |
10/05/2023 | Milan 0x2 Inter | UCl |
16/05/2023 | Inter 1×0 Milan | UCL |
16/09/2023 | Inter 5×1 Milan | Serie A |
22/04/2024 | Milan 1×2 Inter | Serie A |
Por sinal, vale ressaltar que a última destas derrotas deu-se justamente na 33ª rodada da edição anterior da Serie A, que rendeu a Internazionale a conquista do scudetto de maneira antecipada, quer dizer, um feito inédito na história do clássico entre os rivais de Milão. À vista disso, o título italiano após 11 anos de jejum sob a batuta de Stefano Pioli, caiu literalmente no esquecimento dos torcedores milanistas.
Contudo, a apatia dos jogadores fez a torcida confiar que Antonio Conte, até então livre no mercado, seria contratado para suceder Stefano Pioli, especialmente em função do seu temperamento forte, que daria um chacoalhão no plantel. Todavia, depois de quase acertar com Julen Lopetegui, mas desistir do negócio em meio a péssima repercussão nas redes sociais, o Milan decidiu apostar as suas fichas em Paulo Fonseca, a fim de ter um ambiente tranquilo devido ao perfil mais equilibrado do técnico português que ainda não costuma fazer cobranças, como por exemplo, pedir reforços.
Assim, como não poderia deixar de ser, a irritação da torcida que dormiu sonhando com Antonio Conte e acordou com Paulo Fonseca desembarcando na capital da Lombardia para assumir o Milan, aumentou demasiadamente junto aos diretores do clube, dentre eles, o ídolo Zlatan Ibrahimovic, bastante vaiado neste último jogo de cunho festivo frente o Genoa.
Juntos, os atacantes do Milan, Álvaro Morata e Tammy Abraham, marcaram seis vezes na Serie A, o que corresponde a metade dos gols de Mateo Retegui, contratado nesta temporada pela Atalanta.
Mas pior do que isso tudo é que o tiro disparado pela diretoria do Milan saiu pela culatra, pois ao entrar em rota de colisão com algumas lideranças do grupo milanista, como são os casos de Davide Calabria, Theo Hernández e Rafael Leão, o clima interno entre Paulo Fonseca e o vestiário é o pior possível. A propósito, isso explica a total falta de empenho e comprometimento por parte dos atletas que, definitivamente, não acreditam nas ideias do treinador.
Mas por que o Milan não demite Paulo Fonseca? Simplesmente, porque seria assinar o erro cometido pelo próprio clube ao contratá-lo. Logo, não restam dúvidas de que a diretoria vai esticar a corda o máximo que conseguir, ainda que isso possa comprometer a campanha do time na Champions League, tendo em vista que na Serie A a briga se resume única e exclusivamente a uma vaga no G-4, cuja distância em comparação a quarta-colocada, Fiorentina, é de oito pontos.
Diante deste cenário, ao mesmo tempo que os protestos dos torcedores ganham maiores proporções, o Milan se apresenta uma equipe totalmente sem rumo, muito mais fraca do que aquela da temporada passada comandada por Stefano Pioli, que, na pior das hipóteses, ainda foi vice-campeã italiana. Como resultado, os pupilos de Paulo Fonseca têm somente a quinta melhor defesa e o sexto ataque mais eficiente da Serie A, com 16 gols sofridos e 24 marcados na competição.
Sob todos estes aspectos, nem mesmo os seis pontos dos últimos acessíveis compromissos do Milan em 2024, ante Hellas Verona e Roma, estão garantidos. Ou seja, uma clara evidência de que os milanistas realmente não têm motivos para festejar nesta virada de ano.