Cento e oitenta e dois dias! Este foi o período da passagem de Paulo Fonseca pelo Milan, que por sua vez, poucas horas após a sua demissão já anunciou a chegada do conterrâneo Sérgio Conceição para substituí-lo no cargo.
Deste modo, o Milan fez realmente valer o tradicional lema de: “Ano novo, vida nova”. Seja como for, uma atitude inevitável aos Rossoneri pois, embora curta, a trajetória de Paulo Fonseca pela capital da Lombardia pareceu uma eternidade aos torcedores milanistas em função da crise de resultados e de relacionamento do treinador junto a algumas lideranças do elenco, como são os casos de Davide Calabria, Theo Hernández e Rafael Leão.
Os grandes picos do frustrante trabalho de Paulo Fonseca no Milan ocorreram na vitória por 2 a 1 no Derby Della Madonnina, que encerrou a série de seis derrotas seguidas no clássico, e no triunfo por 3 a 1 sobre o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu. Aliás, o ex-treinador da Roma teve papel fundamental em ambas partidas, vide a surpreendente escalação de Álvaro Morata como meia-atacante contra a Internazionale.
Em contrapartida, o Milan não convenceu sob o comando de Paulo Fonseca, tanto é, que ele se despede do clube o deixando na oitava posição na tabela da Serie A, somando 27 pontos em 17 jogos. A propósito, uma pífia campanha de 52% de aproveitamento marcada por uma derrota diante do recém-promovido Parma (2 a 1), além de empates contra Cagliari (3 a 3) e Genoa (0 a 0). Não à toa, oito pontos separam os Rossoneri do G-4 do campeonato.
Appuntamento alla 19esima giornata, ci lasciamo così ↩️???? pic.twitter.com/IWiYcgWwoa
— Lega Serie A (@SerieA) December 30, 2024
Portanto, fica evidente que Paulo Fonseca não conseguiu colocar em prática tudo o que idealizou pelos lados de Milão, em especial por ter entrado em rota de colisão com as principais estrelas do vestiário. Consequentemente, o que se viu na maioria dos jogos foi um Milan apático, com baixíssimo poderio ofensivo, e até com dificuldades em converter penalidades, a julgar pela derrota por 2 a 1 frente a Fiorentina, em que Theo Hernández e Tammy Abraham perderam uma cobrança cada.
Logo, não restaram alternativas a diretoria que não demitir Paulo Fonseca após o empate em 1 a 1 com a Roma no último compromisso de 2024. De qualquer maneira, a queda do sucessor de Stefano Pioli sempre foi considerada como uma tragédia anunciada, tendo em vista que nem o mais otimista dos torcedores imaginava que ele seria capaz de conduzir o Milan ao caminho das vitórias por conta do último trabalho abaixo das expectativas no futebol italiano, onde dirigiu os Giallorossi, bem como em razão da falta de brio do plantel milanista.
Por este motivo, o desejo principal da torcida era que Antonio Conte fosse o técnico escolhido para comandar o Milan depois da saída de Stefano Pioli, ou então, Sérgio Conceição, já que os dois estavam livres no mercado e tinham o perfil ideal para gerir os Rossoneri, por serem rígidos e extremamente exigentes. Todavia, a diretoria optou pela vinda de Paulo Fonseca, cujo temperamento é mais tranquilo e acolhedor.
Á vista disso, a demissão de Paulo Fonseca representa na verdade a correção do grave erro cometido pelo Milan ao trazê-lo. E sem Antonio Conte disponível como há seis meses, o clube italiano nomeou Sérgio Conceição como treinador do conjunto rubro-negro apesar do seu histórico ligado a Internazionale, time pelo qual ele atuou entre 2001 a 2003, inclusive jogando as semifinais da temporada 2002-03 da Champions League contra o próprio Diavolo.
Adepto aos esquemas 4-4-2 e 4-2-3-1, o pragmático Sérgio Conceição costuma fazer as suas equipes jogar de forma bastante vertical, sempre chegando de forma rápida ao ataque através de velozes transições, o que exige bastante da parte física dos atletas, também em virtude do modelo de jogo mais duro e combativo. Em outras palavras, características totalmente contrárias ao antecessor Paulo Fonseca, que priorizava a posse de bola.
Este será o primeiro trabalho de Sérgio Conceição como treinador na Itália, diferentemente dos tempos de jogador, em que ele colecionou passagens por Lazio (2x), Parma e Inter de Milão.
E por mais que o Milan atravesse um momento pra lá de conturbado, Sérgio Conceição desembarca em solo italiano em alta devido ao excelente trabalho realizado pelo Porto. Em sete temporadas no Dragão, o treinador de 50 anos de idade se tornou o técnico mais vitorioso da história do clube ao erguer o montante de ONZE canecos, dentre eles, três títulos portugueses.
Em todo o caso, Sérgio Conceição terá pela frente o maior desafio da carreira, isso porque ele terá somente cinco meses para recuperar a temporada de migalhas da equipe que é dona do terceiro elenco mais valioso da Serie A, conquistando pelo menos uma vaga na próxima edição da Champions League. Ou seja, uma tarefa dificílima em meio a total baixa estima deste monótono, lento e inseguro, Milan.
No entanto, Sérgio Conceição sabe perfeitamente o que lhe espera, visto que nos últimos dias o técnico português rejeitou uma proposta oferecida pelo Wolverhampton por intermédio do seu agente Jorge Mendes, o que levou os Wolves a contratarem Vítor Pereira. Diante desta ação, decerto ele sabia que o Milan o procuraria mais uma vez após a forte sondagem recebida ao término da temporada anterior.
Assim, ainda que a situação tenha se complicado em função da demorada troca do treinador que nem deveria ter vindo, ao menos com a chegada de Sérgio Conceição o Milan passará a enxergar um horizonte no futuro que estava completamente à deriva sob a batuta de Paulo Fonseca.