É comum vermos alguns clubes considerados carta fora do baralho se destacarem a cada ano na Europa, vide os recentes exemplos de Girona, Bologna e Aston Villa, que disputaram a atual edição da Champions League após surpreendentes campanhas em suas respectivas ligas. E sinceramente, eu acho essas histórias as mais legais do futebol.
Por esta razão, me dá prazer escrever um artigo como o de hoje, no qual enfatizarei a magistral temporada do Racing Strasbourg, que iniciou a Ligue 1 com o objetivo de se manter na elite do futebol francês e encerrou a 29ª rodada na sexta posição com os mesmos 50 pontos do quinto colocado Lille, e separado pela pontuação mínima do G-4, o que significa que a Champions League está, verdadeiramente, na mira dos alsacianos.
Para ser mais específico, são 14 vitórias, 8 empates, 7 derrotas, 48 gols marcados, 37 tentos sofridos, e 57% de aproveitamento do Racing Strasbourg em 31 jogos disputados na Ligue 1. Ou seja, um desempenho realmente impressionante do time que terminou a temporada passada no 13º lugar sob a batuta de Patrick Viera, somando 11 pontos a menos em comparação aos atuais 50 assinalados.
Vale ressaltar que devido a enorme crise financeira vivida durante a década de 2010, o Racing Strasbourg chegou a cair para a terceira divisão na temporada 2010-11, onde permaneceu durante quatro longos anos até retonar à Ligue 2 e, seguidamente, garantir o acesso imediato à Ligue 1 em 2017, se consolidando desde então como um notório clube de meio de tabela.
5 clubs se tiennent en seulement en 3 points ???? !
— Ligue 1 McDonald's (@Ligue1) April 13, 2025
???????? La course à l'Europe va être complétement folle ???????? pic.twitter.com/Hxh0pUm7qA
Diante deste cenário, a pergunta que fica é: o que mudou neste curto espaço de um ano para a enorme evolução do Racing Strasbourg? A primeira hipótese que nos vem à mente são investimentos, algo que se confirma por intermédio dos 55,4 milhões de euros despejados pelo sexto clube que mais gastou com contratações nesta temporada da Ligue 1.
Aliás, três destes reforços superaram ou igualaram as cifras dos 10 milhões de euros, como são os casos de Sekou Mara (12mi.), Sebastian Nanasi (11mi.) e Mamadou Sarr (10m.). Entretanto, o grande acerto por parte do Racing Strasbourg na montagem do elenco foram as contratações via empréstimos, já que importantes nomes como Djordje Petkovic, Andrew Omobamidele, Valentín Barco, Andrey Santos e Samuel Amo-Ameyaw vieram nestes moldes. Curiosamente, todos oriundos de clubes da Premier League.
Obviamente, o fato do Racing Strasbourg ser uma espécie de clube-satélite do Chelsea abriu a possibilidade para a vinda de muitos destes jogadores, sobretudo daqueles que pertencem aos Blues. De qualquer maneira, o detalhe em comum entre os reforços é a jovialidade pois, com exceção ao goleiro Djordje Petkovic (24), todos têm 22 ou menos anos de idade, o que os coloca como a equipe mais novata da Ligue 1 na atualidade — cuja média é de 22,7 anos.
A propósito, uma estratégia similar a adotada pelo Chelsea que torrou mais de 2 bilhões de euros para trazer jovens promessas desde que foi adquirido por Todd Boehly, porém continua patinando na Premier League. Seja como for, ao menos essa política vem funcionando perfeitamente no Racing Strasbourg que, além do plantel, também apostou no técnico da nova geração, Liam Rosenior, que realiza apenas o segundo trabalho na curta trajetória de três anos como treinador.
É importante salientar que Liam Rosenior acumula uma passagem de duas temporadas pelo Hull City, que sob o seu comando ocupou as 15ª e 7ª colocações da Championship League (segunda divisão inglesa). Ainda assim, a capacidade de desenvolver jovens atletas, aliada a influente liderança do treinador de 40 anos de idade, motivaram o Racing Strasbourg a contratá-lo para suceder Patrick Viera.
Atualmente na 20ª posição da Championship League, a seis pontos da queda à terceira divisão, o Hull City deve estar extremamente arrependido de ter demitido Liam Rosenior (foto) há onze meses.
Em todo o caso, nem tudo são flores no Racing Strasbourg pois apesar da ótima campanha na Ligue 1 uma grande parcela da torcida segue protestando durante as partidas, não por ser contra a venda do clube à BlueCo, mas sim por não aceitar a maneira como o negócio funciona, isto é, com os franceses, basicamente, nutrindo o Chelsea. Talvez, apenas a vaga na Champions League amenize o clima de pressão pelos lados do Baixo Reno.
Em contrapartida, a inédita classificação ao torneio continental geraria um grande problema para Todd Boehly e toda a sua trupe, uma vez que a UEFA proíbe a participação de clubes geridos pela mesma empresa na Champions League, o que sinaliza que a BlueCo precisaria realizar algum tipo de manobra no caso das qualificações de Chelsea e Racing Strasbourg, assim como fez o City Football Group em relação as presenças de Manchester City e Girona nessa temporada.
Deste modo, é fundamental que essa possibilidade já comece a ser discutida pelos diretores da BlueCo, a julgar que os pupilos de Liam Rosenior sustentam uma invencibilidade de nove partidas — colecionando sete vitórias e dois empates neste período —, a cinco rodadas do término da Ligue 1. Não à toa, a sensação é a de que o espaço na Champions League está mais próximo de ser preenchido pelo “primo pobre”, Racing Strasbourg, do que propriamente pelo “primo rico”, Chelsea.
É de se referir que Monaco e PSG serão os adversários mais complicados no caminho do Racing Strasbourg nessa reta final de temporada, apesar de que o próximo compromisso diante dos vice-colocados da Ligue 1 se apresenta como o pior pelo fato dos atuais tetracampeões franceses só estarem cumprindo tabela e, é claro, priorizando a fase decisiva da Champions League.
Isto posto, a realidade é que a até outrora inimaginável Champions League está batendo na porta do Racing Strasbourg.