Heróis do mar, nobre povo, nação valente, imortal! O hino de Portugal simboliza de forma exímia o espírito da seleção portuguesa, que através de muita garra, personalidade, alma e superação, regressou de Munique com o título da Liga das Nações da UEFA ao derrotar a Espanha nas penalidades.
Entretanto, para compreender melhor o tamanho do feito alcançado por Cristiano Ronaldo e companhia limitada é necessário destacar que Portugal desembarcou em solo alemão para disputar a Final Four da Liga das Nações totalmente pressionado, com o técnico Roberto Martínez na corda bamba devido as pesadas críticas recebidas por parte da opinião pública, além dos fantasmas de José Mourinho e Jorge Jesus que o assombravam cada vez mais.
Deste modo, a única condição de Roberto Martínez assegurar sua permanência na seleção portuguesa era por intermédio da conquista da Liga das Nações, ou seja, uma dificílima tarefa que começou a ser traçada com o triunfo por 2 a 1, de virada, sobre a anfitriã Alemanha, que um ano depois de desperdiçar a oportunidade de dar a volta olímpica diante de sua torcida na Eurocopa, encarava a Final Four como uma segunda chance para se redimir.
A propósito, a vitória que garantiu a classificação de Portugal à final da Liga das Nações expôs a força do plantel lusitano, a julgar pela trocas realizadas por Roberto Martínez ao promover as entradas de Francisco Conceição, Vitinha, Nélson Semedo, João Palhinha e Diogo Jota. Quer dizer, um vasto leque de opções que, por exemplo, Julian Nagelsmann não tinha no banco de reservas ao lado. Não à toa, através destas mudanças ficou claro que diversas seleções do futebol mundial não tem a qualidade dos portugueses na atualidade.
O maior artilheiro de todos os tempos por seleções com 138 gols, Cristiano Ronaldo, se despediu da Liga das Nações com 938 tentos marcados, estando a 62 do milésimo na carreira.
À vista disso, Portugal quebrou em plena Allianz Arena o longo jejum de 25 anos sem vencer a Alemanha. Ainda assim, para muitos a final antecipada da Liga das Nações ocorreu na outra semifinal que terminou com a vitória da Espanha diante da França por 5 a 4, o que significa que o maior desafio dos pupilos de Roberto Martínez seria realmente frente os atuais campeões europeus.
Por sinal, tratava-se de uma decisão que reunia o encontro de gerações, com o veterano Cristiano Ronaldo enfrentando o novato Lamine Yamal, ambos separados por nada menos que 23 anos de idade, lembrando que o craque do Barcelona não havia nascido nem mesmo quando o camisa 7 estreou vestindo a camisa do segundo clube da carreira, Manchester United, em agosto de 2003.
Pois é, e no final das contas a experiência acabou prevalecendo sobre a juventude, já que foi Cristiano Ronaldo quem ergueu o caneco da Liga das Nações na Allianz Arena. Mas isso depois de uma heróica exibição da seleção portuguesa que, por meio de muita resiliência tirou a desvantagem no placar duas vezes ao longo do jogo, primeiramente, aos 26 minutos da etapa inicial com Nuno Mendes, e em seguida com CR7, aos 15 minutos do segundo tempo.
Aliás, cabe aqui parágrafos à parte para estes dois grandes personagens, a começar por Nuno Mendes que, literalmente, colocou Lamine Yamal no bolso, repetindo o que já havia feito com Mohamed Salah e Bukayo Saka na Champions League. Todavia, os méritos do lateral-esquerdo do PSG não são apenas defensivos, tendo em vista que na parte ofensiva ele contribuiu tanto com um gol quanto com a assistência concedida para Cristiano Ronaldo balançar as redes. Por essas e outras, o melhor jogador da Final Four da Liga das Nações é também, o maioral da posição no momento.
Nuno ???????????? Mendes ????????#FazHistória | #NationsLeague pic.twitter.com/1ELHpMW0U7
— Portugal (@selecaoportugal) June 8, 2025
Já Cristiano Ronaldo dispensa comentários. De fato, o maior acerto de Roberto Martínez é mantê-lo entre os titulares de Portugal, apesar da série de questionamentos em torno da convocação do atacante do Al-Nassr. Por se tratar de um atleta com 40 anos de idade, é óbvio que CR7 não vai entregar aquilo que oferecia há cinco primaveras, tampouco há uma década. Em contrapartida, os decisivos gols marcados na capital da Baviera, bem como a liderança exercida sob o elenco, comprovam o quão importante ele ainda está sendo dentro e fora de campo ao selecionado portugûes.
E quis o destino que os dois troféus ganhos por Portugal fora de seus domínios acontecesse com a saída de Cristiano Ronaldo em virtude de lesões musculares no tempo regulamentar, lembrando que ele também deixou a decisão da Euro 2016 contra a França, aos 25 minutos, contundido em Paris. Ao menos, desta vez o artilheiro português esteve em ação até dois minutos do fim, não jogando somente a prorrogação e as penalidades.
Para finalizar, soma-se a isso os talentos de Rúben Dias, João Neves, Vitinha, Bernardo Silva, Bruno Fernandes além do goleiro Diogo Costa, que novamente se destacou numa disputa de pênaltis. Portanto, a realidade é que Roberto Martínez herdou a maior geração da história do futebol português, tal como ocorreu em sua passagem anterior pela Bélgica, onde ele foi bastante criticado por não ter conquistado nenhum título.
Ocupando o antigo posto de Fernando Santos desde a queda na Copa do Mundo de 2022, Roberto Martínez é contestado por preferir que Portugal tenha até três sistemas de jogo diferentes a fim de se adaptar ao perfil dos adversários, ao invés de desenvolver uma identidade própria e, consequentemente, reverter a situação fazendo com que os oponentes se adequem ao seu estilo, é claro, por ter material humano de sobra à disposição para isso. Ademais, também pesa contra ele o contexto da nacionalidade, considerando que a escola portuguesa de treinadores está entre as principais do mundo da bola.
Acredito que Roberto Martínez mereça boa parte das críticas que recebe, especialmente, no que diz respeito a algumas escolhas como a de não beber da valiosa fonte do PSG ao não escalar um meio-campo com João Neves e Vitinha na seleção lusa, optando por improvisar o ex-jogador do Benfica na lateral-direita de Portugal. Além disso, outras decisões como iniciar a final da Liga das Nações com Francisco Conceição na formação titular também são questionáveis, mas nada que resulte numa possível demissão, como estava sendo discutido antes da bola rolar na Final Four da Liga das Nações.
Contudo, essa vitória sobre a Espanha dará a tranquilidade necessária para Roberto Martínez liderar a missão de conduzir Portugal ao inédito título mundial, um feito nada improvável para a primeira seleção que venceu a Liga das Nações, e que agora também é a primeira — e única — detentora de duas taças do torneio continental.