Tottenham aposta em Thomas Frank para iniciar novo ciclo pós-título

Sob os gritos de “We’ve got our Tottenham back” (Temos o nosso Tottenham de volta), Ange Postecoglou despediu-se dos Spurs em sua última aparição pelo clube do norte de Londres, marcada pela melancólica goleada por 4 a 1 sofrida diante do Brighton na rodada final da Premier League.

Logo, apesar da pior campanha do Tottenham desde o seu último rebaixamento na temporada 1976-77, composta pela 17ª posição na Premier League e pelo montante de 22 derrotas em 38 jogos, Ange Postecoglou acabou se redimindo junto aos torcedores por intermédio da inédita conquista da Europa League ao vencer o Manchester United pelo placar mínimo na decisão e, deste modo, tirar os Spurs da incômoda fila de 17 anos sem títulos.

A propósito, ao soltar o grito de campeão na Europa League, Ange Postecoglou cumpriu a promessa de sempre erguer canecos a cada segundo ano de trabalho na carreira, repetindo assim os feitos alcançados em suas passagens por South Melbourne, Brisbane Roar, Yokohama F. Marinos e Celtic, com a diferença de que no Tottenham ele precisou abrir mão das suas convições ao mudar completamente sua abordagem de jogo para dar a volta olímpica em Bilbao.

Ainda assim, embora Ange Postecoglou mantivesse viva a esperança de prosseguir à frente dos Spurs devido a conquista da Europa Lague, a realidade é que o sucesso no torneio continental não foi capaz de garantir a sua permanência no clube, o que já era esperado depois da catastrófica temporada do Tottenham, cujo novo treinador responde pelo nome de Thomas Frank, contratado junto ao vizinho da capital inglesa, Brentford, por 10 milhões de libras (R$ 75,4 milhões).

No Brentford desde 2018, Thomas Frank se notabilizou ao conduzí-lo da zona intermediária da Championship League ao recente décimo lugar da Premier League num espaço de sete temporadas, período no qual o treinador dinamarquês remodelou o sistema de jogo dos Bees ao abdicar do estilo híbrido e dominante quando se deparava ante adversários de menor nível técnico, para outro mais conservador contra oponentes da elite inglesa.

No entanto, apesar de menor o poderio ofensivo do Brentford jamais deixou de existir sob o comando de Thomas Frank, a julgar pelos dois dígitos de gols marcados por Bryan Mbeumo, Yoane Wissa e Kevin Schade na edição anterior da Premier League, que mantiveram os londrinos como um dos poucos clubes com três jogadores balançando as redes dez ou mais vezes na competição.

Outra marca registrada do trabalho de Thomas Frank é a valorização de um meia de criação na equipe, vide o exemplo da contratação de Christian Eriksen em janeiro de 2022, bem como a ascensão de Mikkel Damsgaard nas últimas temporadas. De qualquer maneira, a capacidade do treinador de 51 anos de idade em fazer o Brentford jogar de diversas maneiras independente das ferramentas à disposição e de quem são os adversários, é realmente admirável.

Como resultado, o Brentford não foi impactado com as relevantes saídas de David Raya, Saïd Benrahma, além de Ezri Konsa, e tampouco com as negociações envolvendo Neal Maupay, Ollie Watkins e Ivan Toney nas últimas janelas de transferências. Inclusive, um trio de atacantes com características diferentes que rapidamente se adaptaram ao novo esquema do time, dada a enorme maestria de Thomas Frank em trabalhar com o que tem em mãos.

Contudo, dentro das quatro linhas essa troca não surtirá tanto efeito ao Tottenham quanto a última entre Antonio Conte e Ange Postecoglou, já que ambos tinham perfis totalmente distintos, com Conte optando por uma formação com três zagueiros baseada num padrão mais defensivo, enquanto Postecoglou era adepto a um estilo ofensivo, lembrando que os ancessores do atual treinador do Napoli, Mauricio Pochettino, José Mourinho e Nuno Espírito Santo, também priorizavam a defesa.

Invariavelmente, o ótimo trabalho de Thomas Frank no Brentford o fez vencer a forte concorrência contra Oliver Glasner, Marco Silva e Andoni Iraola para suceder Ange Postecoglou no Tottenham. Ao mesmo tempo, as expectativas se renovaram no norte de Londres a ponto de muitos torcedores questionarem se estão diante das gloriosas fases de Bill Nicholson ou Keith Burkinshaw.

Portanto, fica evidente que a pressão em torno de Thomas Frank já começou antes mesmo da sua estreia. Por sinal, a saída de um clube sem tensão para outro que costuma viver em chamas será o maior obstáculo do ex-treinador do Brentford, sobretudo considerando que os experientes e renomados José Mourinho e Antonio Conte não o superaram. Aliás, o próprio Ange Postecoglou foi ‘derretendo’ no cargo com um primeiro ano mais leve e um segundo pra lá de estressante, basta ver o semblante dele na primeira e última coletivas pré-jogo.

Em todo o caso, a chegada de Thomas Frank por si só não resolverá os diversos problemas dos Spurs, dentre os quais se destacam as lesões. E ainda tendo a Champions League pela frente, veremos o Tottenham bastante ativo no mercado neste meio de ano, haja vista os 35 milhões de euros já despejados para trazer o atacante Mathys Tel, que passou a segunda metade da temporada passada emprestado ao clube pelo Bayern de Munique.

Vale ressaltar ainda, que a vinda de Thomas Frank pode fazer do Tottenham o provável destino de alguns jogadores do Brentford, levando em conta o interesse do Lilywhites nas contratações de Bryan Mbeumo, Yaone Wissa e Christian Norgaard. Além deles, Arnaud Kalimuendo, Tyler Dibling, Antoine Semenyo, Hugo Ekitiké, Marcus Rashford, Raphael Onyedika e Justin Kluivert completam a extensa lista de possíveis reforços dos atuais campeões da Europa League.

Seja como for, a movimentação do Tottenham nessa janela de transferências é irrelevante quando o que verdadeiramente importa com a vinda do flexível Thomas Frank é qual Spurs veremos em ação: um no estilo Brondby ou Brentford da Championship League, que priorizava o controle através da posse de bola, ou aquele da versão 2.0 dos Bees, que atuava de forma mais direta e vertical, trocando menos passes e exercendo maior pressão sobre os rivais?

Todavia, uma resposta que começará a ser dada somente a partir da decisão da Supercopa da UEFA frente o poderoso Paris Saint-Germain.

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