Há exatos 37 dias, o Liverpool se despedia de maneira precoce e vexatória da FA Cup ao cair por 1 a 0 diante do modesto Plymouth Argile, lanterna da Championship League (2ª divisão do futebol inglês), na 4ª fase do torneio.
No entanto, o que nem o mais crítico dos torcedores do Liverpool imaginava é que a eliminação na FA Cup era apenas um mau presságio do que estava por vir, a julgar que os Reds iniciaram a semana amargurando o pior momento da temporada, que teve início com a queda frente o Paris Saint-Germain nas oitavas-de-final da Champions League em pleno estádio de Anfield.
Após o triunfo pelo placar mínimo no Parque dos Príncipes em meio aos 28 arremates por parte dos franceses na magistral noite de Alisson, marcada pelo inusitado gol de Harvey Elliott 47 segundos depois da sua entrada no lugar de Mohamed Salah, o Liverpool recebeu o PSG jogando pelo empate no jogo de volta para avançar de fase. Todavia, o gol de Ousmane Dembélé, aos 12 minutos de partida, resultou na vitória dos parisienses por 1 a 0. Nas penalidades, a estrela de Gianluigi Donnarumma brilhou e os pupilos de Arne Slot perderam por 4 a 1.
Em todo o caso, por mais dura que tenha sido a merecida despedida dos Reds da Champions League, considerando que eles foram inferiores em relação ao PSG em três dos quatro tempos dos 180 minutos do confronto — e isso sem contar a prorrogação —, o Liverpool ao menos tinha a oportunidade de curar as feridas na decisão da Copa da Liga, que valia o bicampeonato da competição.
PSG vs Liverpool over two legs. pic.twitter.com/9kNP9J4k6W
— Opta Analyst (@OptaAnalyst) March 12, 2025
Além disso, do outro lado estava o Newcastle que não derrotava o Liverpool desde dezembro de 2015 sob o comando de Steve McLaren. De lá pra cá, foram 17 encontros que terminaram com 12 derrotas dos Magpies e cinco empates. Logo, esse retrospecto favorável, aliado a larga distância de 23 pontos que separam ambos na tabela da Premier League, colocava a taça da Copa da Liga mais próxima de Merseyside.
Contudo, contrariando as expectativas mais uma vez o Liverpool sucumbiu não somente ao retornar de Wembey derrotado por 2 a 1, como também ao desperdiçar a oportunidade de erguer o primeiro caneco na era pós-Jurgen Klopp e, de quebra, espantar a turbulência que o assola nessa reta final de temporada. Aliás, novamente um resultado justo pela ampla superioridade do Newcastle, em especial no que diz respeito a intensidade.
Pois é, e embora a Copa da Liga tivesse uma relevância infinitamente maior ao Newcastle, que não dava uma volta olímpica a 70 anos, era esperado um Liverpool mais combativo em campo, algo que inexistiu muito por conta da desgastante partida da Champions League no meio de semana. E cai entre nós, se encarar o físico time de Eddie Howe — cujo meio-campo é formado por Sandro Tonali, Bruno Guimarães e Joelinton — já não é uma tarefa fácil em condições normais, o que dirá com cansaço nas pernas.
Consequentemente, foi enorme o número de duelos vencidos pelo Newcastle em comparação ao Liverpool na decisão (51 a 38), o que explica porque os Reds finalizaram míseras sete vezes ao longo da partida, sendo três delas nos acréscimos quando Federico Chiesa balançou as redes num bate-rebate oriundo do abafa feito nos minutos finais.
Por outro lado, além dos 17 arremates e dois tentos marcados, os Magpies tiveram outro gol anulado devido a um impedimento passivo de Bruno Guimarães, e ainda perderam uma grande chance com o goleiro Caoimhin Kelleher defendendo uma bola cara a cara de Alexander Isak. Portanto, a realidade é que o Liverpool saiu no lucro ao perder apenas por 2 a 1.
Ademais, é importante salientar a péssima partida de Mohamed Salah em Wembley. Como o lado esquerdo do Newcastle estava completamente desfalcado em razão das ausências de Lewis Hall e Anthony Gordon, o cenário se mostrava favorável ao atacante egípcio. Entretanto, da mesma forma que já havia ocorrido nas duas partidas diante do PSG, em que o camisa 11 “ficou no bolso” de Nuno Mendes, desta vez foi o novato Valentino Livramento que o anulou em campo.
E como todos nós sabemos, nos momentos de pouca ou nenhuma inspiração de Mohamed Salah, o Liverpool também não joga bem por não ter na equipe outro atleta que assuma o protagonismo, que o digam Diogo Jota, Luis Díaz, Darwin Núñez e Cody Gakpo. Não à toa, Salah é responsável por mais da metade dos 106 gols marcados pelos Reds na temporada, vide os 34 gols e 22 assistências concedidas por ele no período, o que equivale a 56 contribuições.
De qualquer maneira, Mohamed Salah terminou a decisão da Copa da Liga tocando somente 23 vezes na bola, isto é, o mesmo registro de Harvey Elliott, que esteve em ação apenas 15 minutos na final. E sob este espectro surgem críticas ao técnico Arne Slot, que opta por não ceder mais oportunidades aos suplentes Wataru Endo, Curtis Jones, Federico Chiesa, além do próprio Elliott. Ou seja, porque ele não roda mais o, nitidamente, desgastado elenco do Liverpool?
Contra o Newcastle, Mohamed Salah concluiu o primeiro jogo desde a sua chegada ao Liverpool em 2017 sem finalizar ou criar uma única chance de gol em uma partida.
E não para por aí, pois outras escolhas de Arne Slot também são questionadas pelos lados de Anfield, como por exemplo a insistência por Diogo Jota no ataque do Liverpool, o que é retrato da má gestão de minutagem do técnico holandês, sobretudo porque a diferença entre os minutos dos onze titulares do time é gigantesca acerca dos reservas.
Como resultado, o Liverpool, que literalmente voou na primeira metade da temporada, chegou esgotado na fase mais decisiva, um problema que não teria acontecido se Arne Slot trocasse com maior frequência Wataru Endo por Ryan Gravenberch, Curtis Jones por Alexis Mac Allister ou Dominik Szoboszlai, Harvey Elliott por Mohamed Salah, Federico Chiesa por Luis Díaz, e por aí vai.
Seja como for, o recente adeus na Champions League e o vice-título da Copa da Liga não mudam a situação do Liverpool na Premier League, tendo em vista que os Reds lideram isoladamente o campeonato com 12 pontos de vantagem sobre o vice-colocado Arsenal, a nove rodadas do término da temporada. Quer dizer, um caminho bastante tranquilo rumo à conquista do título inglês, ainda mais havendo somente uma competição no calendário.
Deste modo, basta o Liverpool vencer os próximos cinco compromissos ante Everton (c), Fulham (f), West Ham (c), Leicester (f) e Tottenham (f) para que os torcedores comemorarem in loco o primeiro título inglês desde 1990, já que a Premier League vencida em 2020 foi conquistada sob portões fechados em decorrência da pandemia.
Isto posto, apesar da sensação de total decepção em virtude dos tropeços da última semana, a temporada de transição envolvendo a saída de Jurgen Klopp e a vinda de Arne Slot será bem-sucedida ao Liverpool, cujo horizonte é refletido através do troféu da Premier League.